A CORUJA E O ROUXINOL 2: A TAPEÇARIA

“Graças vos dou, Senhor meu Deus, porque ocultastes estas coisas aos grandes e poderosos e as revelastes aos pequeninos” (Mateus 11 – 25,26)

“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus”. (Mateus, 5  8)

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Detalhe da Tapeçaria de Bayeux

Três homens olham uma grande tapeçaria.

Resultado de imagem para um cientistaO primeiro é um cientista, legítimo produto das universidades modernas: eficiente, meticuloso e prático, incrédulo de tudo quanto não for passível de ser reduzido a fórmulas, ou de ser comprovado no santuário dos laboratórios, kaabas do século XX.

Resultado de imagem para um estudante universitario desenhoO segundo é um rapaz que completou seu primeiro ano da faculdade, já começou a saber se alinhar com o politicamente correto, mal e mal envernizado pela “ciência universitária” e pela “cultura” de televisão e da internet. Não tem livros e nem os lê. Quando alguém reclama diz que tem um modelo: o ex presidente Lula.

Ele é presunçoso: julga-se intelectual.

Ele é imaginativo: julga ter opinião própria.

Resultado de imagem para homem do campoO terceiro é um pobre caipira humilde que, graças à nossas oligarquias,  jamais frequentou uma escola. Seu analfabetismo o impediu de alcançar os tesouros da ciência e da cultura. Mas… ele guardou o bom senso natural. Onde nasceu não havia eletricidade. Não conheceu a televisão. Ainda menino, ele só viu o grande espetáculo do Universo: o desabrochar das flores, o gado no campo, o canavial ao vento, o nascer e o por do sol, o céu estrelado… À noite adorava olhar as estrelas. Era um homem que olhava para o céu.

Ei-los os três diante da Tapeçaria.

O cientista – levado sempre por sua curiosidade analítica que jamais o abandona – oh! não! – examina a tapeçaria centímetro por centímetro, de lente na mão, e com o nariz grudado à tela. E lá vai ele, alheio a tudo mais, esfregando a ponta de seu nariz científico pela tapeçaria.

O jovem universitário, que sonha em ser professor de ciências, olha a tapeçaria como se fosse a televisão: a um metro de distância.

O caipira – coitado – intimidado pela presença dos outros dois tão importantes, tão desembaraçados, fica à distância olhando a tapeçaria de longe, com interesse e encantado.

Alguém perguntou aos três o que estavam vendo.

Resultado de imagem para mancha pretaO cientista, enfadado por ser interrompido em sua pesquisa, respondeu com lacônico mau humor:

– Uma mancha preta.

Imagem relacionadaO jovem, excitado por lhe terem perguntado algo, encantado por ter que dar a sua opinião, “o seu ponto de vista”, apressou-se a responder. Ele sempre tivera muita sorte nos testes de múltipla escolha: quase sempre punha a cruzinha no quadradinho certo. Um professor até lhe disse que ele era intuitivo e inteligente. Devia ter Q. I. elevado. Com ele era assim: respondia logo e sem hesitação. Tinha autoconfiança. Qualidade positiva.

Ele disse que estava vendo um cavalo preto.

O cientista nem se abalou com a resposta do jovem. A juventude é precipitada. Não tem paciência para fazer longas análises. Que cavalo preto?… Aquilo era uma mancha preta, resultante da ação de uma substância contendo biureto de mercúrio com bromato de potássio numa tela de fibras sintéticas. Não havia dúvidas. E prosseguiu o seu paciente exame de uma curiosa mancha vermelha confinando com outra surpreendentemente verde.

O caipira exclamou: -“Eu tô vendo é uma batalha”.

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Ouvindo isto o cientista suspirou e, de si para si, lamentou a ignorância das massas. Ele precisava falar com o ministro da cultura. Era preciso incentivar e apressar a execução do plano decenal de educação maciça. Era urgentíssimo instalar uma faculdade em cada bairro. Com laboratórios bem aparelhados, bem entendido, senão nada feito. Seria um fracasso, um fracasso! Era preciso erradicar de vez o analfabetismo e a ignorância das massas.

Os pensamentos do rapaz eram mais curtos: “mas que fora!” disse ele para os seus desabotoados botões…

Assim estão os homens hoje diante da grande tapeçaria do Universo.

Alguns, levados por uma ciência materialista, ficam obcecados por verdades parciais e perdem completamente a visão de conjunto. Acumulam informações, colecionam dados mas não compreendem o nexo profundo que une todas as coisas. São cegos de alma. Não veem a grande batalha registrada na tapeçaria do universo. O pobre cientista seria capaz de passar a vida acumulando informações sobre as manchas da tapeçaria. Seria capaz de recortá-las, analisá-las em laboratório, classificar os milhares de tipos de manchas e cores da tapeçaria. Ele só não veria a batalha. Ele tem ciência (pelo menos ele assim pensa), mas não tem sabedoria.

O pobre rapaz, tão vazio quanto presunçoso, como toda pessoa de meio saber, confunde o pouco que vê e que sabe com a verdadeira sabedoria.

Nosso bom analfabeto não tem conhecimentos científicos mas seu bom senso permitiu-lhe guardar a visão de conjunto das coisas. Ele compreende a tapeçaria. Ele vê claramente que nela está representada uma batalha e nela, é verdade, há cavalos pretos. E se encanta com ela.

Ter sabedoria é ter a visão de conjunto da grande tapeçaria da História. É saber ver nela a grande harmonia criada por Deus. Também sabe que na história há uma luta entre o bem e o mal, e que é necessário amar o primeiro e combater o segundo. Só então se compreende tudo e se entende a razão da existência. Só então se compreende o porque de todas as coisas e a relação que elas têm entre si. Aí se vê e se compreende a grande tapeçaria do Universo. Compreende-se o vento e o orvalho, o verde canavial ondulante, a beleza do por do sol, a canção das estrelas. Quando se tem sabedoria compreende-se que o Universo é como um grande véu de Verônica onde é possível contemplar a imagem da Sabedoria de Deus, o brilho da Sagrada Face.

– Domine, ut videam (Senhor, que eu veja!)

Notas:

1. Vale a pena ler a ótima explicação da tapeçaria feita pelo prof. Dr. Ricardo da Costa, historiador, especialista em Idade Média. http://www.ricardocosta.com/tapecaria-de-bayeux-c-1070-1080

2. O site Olivereduc fez pequenas adaptações no texto original.

 

 

 

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