Rafael Ruiz
09/10/2010
A educação da personalidade deve ter um objetivo claro: ensinar a distinguir os diversos modos de realidade e dar o valor adequado a cada um deles.
“Guernica” de Picasso | “Pietá” de Michelângelo |
1. Para que serve a arte?
É um lugar comum dizer que a Arte não serve para nada; que não se resolve nenhum problema à base de arte e de conceitos estéticos; e que o conhecimento deve ser prático, tem de ser útil.
Desde que Francis Bacon instaurou seu famoso “Saber é poder” parece como se tudo na vida consistisse em “dominar a Natureza”, ou seja, dominar as coisas, as pessoas, as relações, os problemas. Mas podemos inverter os termos da questão: será que tudo na vida se reduz a problemas? Será que tudo consiste em dominar? Será que tudo é uma relação de ganhar-perder? Não será que a vida é de uma outra forma e estamos olhando para ela com as lentes erradas – lentes excessivamente monocromáticas!-?
Vamos tentar olhar para a realidade da vida de uma outra forma. Vamos esquecer do “lado prático”. O que vemos? A vida humana desenvolve-se através de muitas relações, as mais variadas possíveis: relações familiares, profissionais, de amizade, de convivência mais ou menos quotidiana; relações íntimas, particulares, solitárias; relações com o sobrenatural, com a Natureza, com a cidade, com a sociedade… Isto se tivermos elencando apenas alguns dos muitos campos que compõem, de fato, a vida humana.
Essas relações não são de forma alguma aleatórias. São relações carregadas de sentido. Aliás, precisamente por não encontrar nenhum sentido nesse tipo de relação que os homens pragmáticos se desesperam e se deixam vencer pela angústia, pelo medo, pelo ceticismo ou por qualquer outro fantasma do mundo contemporâneo.
Voltemos ao pragmatismo: todos queremos estudar algo prático, algo que sirva para resolver alguma coisa. Podemos substituir o termo “algo” por “engenharia, medicina, computação, direito…” e o termo “alguma coisa” por “prédio, tumor, informações, aluguel…”. Muito bem. Dessa forma, conseguimos resolver vários problemas da nossa vida. Podemos dizer que talvez uns 20 ou 30% dos problemas que temos na vida estão resolvidos com esse tipo de conhecimento que, por sua vez, ou temos ou podemos contratar um bom profissional que o tenha para resolver os 20 ou 30% dos problemas citados.
E depois? Como resolvemos os outros 70 ou 80%? Aliás, será que a questão é: como resolvemos? Será que esses 70 ou 80% – que é a maior parte da nossa vida – se reduz a problemas? E se assim for, será que são problemas com solução? E se tiverem solução, será que é uma solução única?
Vamos voltar a olhar para a realidade de uma outra forma: como sei quando devo exigir dos meus filhos e quando fazer de conta que não aconteceu nada? Como sabe alguém quando está apaixonado e quando é correspondido? Como se pode saber até que ponto sacrificar-se e quando se está fazendo um papel ridículo? Como se pode falar com Deus e como se pode ouvi-lO? Como encontrar um limite entre aproveitar os meios que a Natureza nos dá e não abusar dela? Como sei como devo comportar-me com os vizinhos? É melhor ser amável ou melhor um tanto frio? E, por falar nisso, em que consiste ser um tanto frio…?
As relações humanas -dizíamos- são relações carregadas de sentido. Queremos saber, queremos mesmo – com uma força tal, que talvez nós próprios nem saibamos ao certo com quanta força queremos – conhecer o sentido de tudo isso, dessa enorme parcela da nossa vida que não parece possa ser reduzida a soluções bipolares (ou isto ou aquilo; ou quente ou frio; ou dentro ou fora; ou tudo ou nada…).
Viver uma vida pragmática, prática, de respostas “objetivas” – como se costuma dizer – implica transformar tudo isto em relações bipolares; significa desvirtuar a realidade mais real; significa reduzir a vida a duas cores – preto ou branco -, quando a verdade é que a vida é multifacetada, policolorida. As relações humanas – as verdadeiras relações humanas – são relacionamentos abertos, dialógicos, plurais.
Como afirma López Quintás, quando a vida é entendida apenas de uma forma prática, então, a maior parte da vida é vista como um dilema, como um problema a resolver; porém, quando a vida é encarada como um âmbito de relações humanas extremamente abertas, então os problemas se transformam em contrastes e se aprende a viver a vida verdadeiramente humana. “Tomar consciência desta transformação significa um passo decisivo para a maturidade pessoal”(1). Dessa forma, quem adota uma atitude aberta e criativa perante a vida transforma o que seria um problema, por vezes insolúvel, num contraste, cheio de força e fecundidade.
2. A vida como âmbito de encontro
Todas as coisas que estão à nossa frente podem ser chamadas com propriedade de objetos (ob-iacere= estar em frente). São realidades objetivas. E são precisamente elas as que podem ser pesadas, medidas, agarradas, dominadas, submetidas…
Porém, nem tudo no mundo do real é assim. Há algumas coisas reais – insisto na idéia de “reais” para que não se possa dizer que estou falando de flores, como cantaria Geraldo Vandré…- que, de certa forma, são mensuráveis, domináveis, manipuláveis e, de outra forma, não. Posso medir uma pessoa; posso pesar uma criança; posso dominar um ladrão…mas, e o medo? E o amor? E o valor da criança? E os desvelos para cuidá-la? Como posso equacionar o aspecto ético, profissional, religioso, familiar, social, de alguém? Como posso saber até onde chega exatamente a influência que se irradia de uma pessoa de bem e de um malvado?
Tudo isto também é real – aliás, profundamente real – e temos de convir que nada disso é uma realidade do mesmo tipo que a realidade dos objetos; que nada disso pode ser reduzido ao cálculo preciso e exato; que, afinal de contas, toda essa realidade, de certa forma, escapa aos sentidos.
O homem desenvolve-se de tal forma que se pode dizer que é um criador de vínculos. Vínculos que implicam influências mútuas, experiências recíprocas. Esse entranhado de experiências vai forjando a própria personalidade, vai definindo cada vez melhor o próprio caráter, vai constituindo como que “uma segunda natureza”. É por isso que o homem não pode ser reduzido a um objeto; o homem constitui um âmbito de realidade: uma trama de relações e de vínculos.
O homem não pode ser reduzido a um objeto fechado, delimitado, acabado de uma vez para sempre. O homem, como muito bem aponta Julián Marías, é “futurizo”, “projectivo”(2). Tem sempre uma realidade possível perante si. Está aberto a inúmeras possibilidades. É alguém com “ilusión” e, portanto, cheio de projetos que poderá vir a realizar ou não.
Todo este conjunto de qualidades reais são englobadas pelo termo “âmbito”. O homem é um ser “em situação”, não um objeto; e está chamado a realizar os mais diferentes encontros com outros seres em situação, e a estabelecer uma infinidade de relações que configuram o emaranhado vital, o âmbito existencial em que o homem se desenvolve.
Essa categoria “circunstância”, “âmbito” estende-se também a tudo o que se relaciona com o homem. Assim, por exemplo, uma bola é algo objetivo, mensurável, fechado; porém, converte-se num âmbito enquanto o homem a utiliza para o esporte. É por causa dessa conversão em circunstância/âmbito que tem percebido a série de relações e relacionamentos humanos que giram ao redor do esporte: a festa, a competição, as torcidas, as paixões…
Todas as realidades que não se reduzem exclusivamente à categoria de objetos – incluindo também aquelas que, além de serem objetos, podem vir a criar circunstâncias, âmbitos – são “realidades inseridas no ambiente: oferecem possibilidades para agir criativamente e, portanto, possuem certa iniciativa, certa “personalidade” e exigem um trato respeitoso”(3).
O que se quer significar com “personalidade” e “trato respeitoso”? Que, ao tratar os objetos como âmbitos, elevamos os objetos, aperfeiçoamos e, quando não fazemos assim, o rebaixamos, o reduzimos à sua condição de simples objetos. Não somos capazes de extrair deles todas as possibilidades que encerram e, de certa forma, nos reduzimos também a nós próprios, porque perdemos as chances de nos desenvolver, de nos aperfeiçoar: nos objetos não vemos nada mais além do que objetos, ou, como diria Adélia Prado, na pedra não vemos mais do que uma pedra.
Um exemplo? Um berimbau. Mais concretamente, um berimbau nas mãos de algum europeu nórdico. Provavelmente só conseguirá vê-lo como um arco esquisito; porém, esse mesmo arco esquisito numa capoeira dará ensejo a um entramado de relações vivas, criativas, inúmeras. O berimbau foi visto como âmbito.
Quando o homem adota perante a vida uma atitude criativa, está convertendo constantemente os objetos e os espaços em âmbitos. Por isso é fundamental que as crianças possam brincar imaginativamente, que não lhe dêem os brinquedos já prontos, que não esteja tudo já “imaginado” pelo videogame. É fundamental que uma criança pegue um pedaço de madeira e o transforme num cavalo, num soldado, num carro… Está aprendendo a viver de forma criativa; está aprendendo a transformar os objetos em âmbitos.
Quando Ortega y Gasset afirmou “Eu sou eu e minhas circunstâncias” estava sublinhando o caráter relacional do ser humano. De fato, o homem realiza-se em constante interação com tudo o que está ao seu redor. O homem é um ser de encontro.
Porém, é necessário determinar como devem ser essas realidades relacionadas com o homem para que, de fato, possam ser uma “forma de encontro”, possam “criar um âmbito”. O entremeado de possibilidades só pode se dar entre âmbitos, não entre objetos.
3. A arte e a educação
A educação da personalidade deve ter um objetivo claro: ensinar a distinguir os diversos modos de realidade e dar o valor adequado a cada um deles.
O ato de dar valor, o ato de estabelecer uma hierarquia tem de estar transido de “desinteresse”, porque se me deixo levar pela atitude “lucrativa”, “utilitarista”, o máximo que consigo é olhar para todas as realidades como objetos; torno-me incapaz de ver as muitas outras possibilidades que se me abririam se as olhasse como âmbitos.
Por quê? Porque tendo interesse, o que me move é o afã de dominar a realidade. Não estou disposto a conhecê-la para respeitá-la e interagir com ela de forma criativa. Olhar para as coisas como simples objetos cria uma distância entre ambos, torna-nos estranhos um ao outro.
O ponto vital da formação do homem é perceber que dominar e possuir são atitudes apenas possíveis com relação a objetos. E que os objetos, tratados dessa forma, nunca chegaram a serem íntimos, sempre permanecerão estranhos, fora de mim, para que possam ser dominados. Por isso, quem tem essa atitude na vida sempre encarará as relações humanas como dilemas, como problemas que devem ser resolvidos de maneira a serem dominados.
A maior parte das relações humanas está baseada em “pares de conceitos contrapostos”: dentro-fora; frio-quente; público-privado; liberdade-obediência; amor-ódio; alegria-tristeza; auto-afirmação-solidariedade”… Quem acostuma ver a realidade como objeto não consegue atingir um dos pontos mais importantes da educação humana: entender que a atitude criativa transforma esses esquemas em contrastes, em pares de conceitos que se contrapõem, mas que não se excluem entre si, pelo contrário, se complementam.
Um bom livro de literatura não se limita apenas a contar uns fatos. A “Antígona” de Sófocles não narra apenas a história de uma jovem grega que, por enterrar ao seu irmão, teve de enfrentar um tirano e morrer. Se assim fosse, não seria uma obra clássica.
A obra de Sófocles mostra com maestria o enfrentamento de dois âmbitos da vida: o âmbito da piedade e o âmbito da lei. E esses âmbitos fazem parte da vida de qualquer homem; fazem parte da nossa vida atual e podem entrar em choque na nossa vida a qualquer momento.
Um quadro ou uma escultura ajuda-nos a educar nosso olhar para que não nos detenhamos apenas no aspecto objetivo dos seres; ensina-nos a olhar para a realidade captando o seu aspecto ambiental.
A “Pietá” de Michelângelo não é apenas um homem morto nos braços de uma mulher. Há uma infinidade de significados que se entrelaçam nessa obra: o amor de Deus pela Humanidade, a aceitação de Maria do sacrifício do seu Filho, o amor de Maria por nós, a devoção dos fiéis, o mistério do pecado, a necessidade do desagravo…
O famoso quadro “Guernica” de Picasso não é apenas uma cena confusa com uma lâmpada acesa e um touro em atitude esquisita. Mostra realidades ambitais que sempre estarão presentes em tempos de guerra: o desespero, a angústia, o caos, a força raivosa impotente, o horror… e tudo feito às claras, conscientemente, deliberadamente, não por fraqueza…
A experiência estética, portanto, ajuda-nos a ver a realidade humana como âmbitos, não como objetos; como lugares de encontro, não como de domínio e posse; como contrastes, não como oposição.
Uma meta importante para a formação seria perceber que o afã de domínio impede-nos ser criativos, torna-nos incapazes de ter experiências estéticas, obriga-nos a viver de forma bipolar (ou isto ou aquilo) e impede-nos de ver os matizes e as possibilidades múltiplas da realidade. Poderemos ter mais posses, mais capacidade de organização e de poder, mais influências, mais bens para desfrutar; porém, iremos afastando-nos cada vez mais do desenvolvimento e do aperfeiçoamento pessoal.
4. Os homens sem coração
Na sua obra “A abolição do homem”, C.S.Lewis critica os autores de um livro de texto sobre questões de linguagem. As palavras em questão eram “sublime” e “bonita”. “Quando o homem diz “Isto é sublime”, parece estar fazendo um comentário sobre as cachoeiras; porém, de fato, está fazendo um comentário sobre seus próprios sentimentos. O que realmente diz é: Tenho sentimentos associados na minha mente com a palavra “sublime”; ou, abreviadamente: “Tenho sentimentos sublimes” (4).
Quando se afirma que a beleza, a arte, as obras de arte são algo subjetivo está se querendo afirmar: a) que todos os juízos de valor fazem referência apenas ao estado emocional do sujeito; e b) que esses juízos não têm nenhum valor, precisamente por serem subjetivos.
O avanço da técnica, o conhecimento prático e um forte “senso de realidade” faz-nos pensar que tudo o que se relacione com a Estética, com a Beleza e com a Arte não passa de palavras bonitas, sem nenhum valor além do próprio valor de “palavras bonitas”.
A idéia básica deste tipo de atitude perante a Arte é: qualquer tipo de sentimento é suspeito, e mais ainda se esse tipo de sentimento for despertado por uma emoção artística ou por uma associação de idéias perante uma obra de arte.
O homem “realista” e prático considera totalmente irracional e, portanto, sem sentido qualquer tipo de consideração artística, pelo simples motivo de que essas considerações são de ordem subjetiva e, portanto, não dizem respeito a fatos mas a juízos de valor.
A base desta atitude é um posicionamento contrário a tudo aquilo que possa parecer sentimental. Pensa-se que o sentimento interfere de tal forma no racional que impede enxergar como as coisas são, que dificultam – quando não o tornam impossível – o acesso à verdade.
A questão primordial, porém, de toda boa educação não é, nem pode ser erradicar os sentimentos, sufocá-los ou reprimi-los a qualquer custo. A verdadeira educação humana consiste em ensinar a ter os sentimentos adequados.
“Qualquer um pode zangar-se – isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa – não é fácil”(5).
A realidade é de tal forma que certas reações emocionais podem ser congruentes ou incongruentes, adequadas ou não aos conteúdos da realidade. A Natureza é de tal ordem, configura-se de tal forma que determinadas respostas, determinados sentimentos são mais “ajustados”, “apropriados”, “adequados” do que outros. Quando alguém afirma que uma cachoeira é sublime, não está querendo descrever apenas os sentimentos que lhe são despertados; está afirmando também que aquela cachoeira era tal que merecia aqueles sentimentos. “Será que se pode ser justo quando não se apreciam as coisas tal qual elas merecem? Todas as coisas foram criadas para serem tuas, mas tu foste criado para apreciá-las conforme o seu valor”(6).
Todos os filósofos clássicos insistem na idéia de que os sentimentos devem ser educados desde pequenos. Assim, Sto Agostinho, ao afirmar que a virtude é a ordem do amor, lembra que é preciso aprender a ordenar os sentimentos de maneira a poder atribuir a cada coisa o tipo e o grau de amor correspondente (Cfr. De Civ. Dei, XV. 22; IX.5; XI.28). Platão, nas “Leis”, insiste na idéia de que as crianças devem ser ensinadas a sentir agrado, simpatia, aversão perante aquelas coisas que são realmente gratas, simpáticas ou repugnantes (Cfr. Leis, 653):”…e tudo isto antes de chegar à idade da razão; de maneira que quando vier a Razão finalmente até ele, então, tendo sido educado dessa maneira, abrir-lhe-á os braços em sinal de boas vindas e a reconhecerá por causa da afinidade que sentirá com ela”( Cfr. República, 402 A).
Há um tipo de pessoas absolutamente fechado a qualquer valor. Pessoas que são defeituosas, algo assim como cegas ou surdas, embora não queiram reconhecê-lo e encontrem teorias muito sofisticadas para justificar-se. São pessoas, no entender de Aristóteles, com as quais não adianta conversar ou argumentar sobre certos valores; simplesmente não enxergam. São aqueles que não entendem, por exemplo, que as crianças são lindas e os velhos são dignos de respeito; que não percebem que essas afirmações não manifestam apenas um fato psicológico sobre nossos sentimentos, mas são o reconhecimento de qualidades que exigem de nós próprios uma resposta adequada. São surdos-cegos emocionais.
Há um valor nas coisas que exige de nós uma resposta; que nos interpela. E nossas respostas emocionais podem ser de dois tipos, conforme explica Lewis na sua obra: a) racionais: quando nos agrada o que nos deve agradar e nos desagrada o que nos deve desagradar; e b) irracionais: quando percebemos que nos deveria agradar, mas não sentimos nenhum agrado.
Temos de ter presente que nenhum sentimento é, em si próprio, um juízo. Neste sentido, nenhuma emoção ou sentimento tem lógica. O que tem é uma adequação à razão ou não. O homem que não dá valor à Arte; o homem que rejeita qualquer juízo de valor, qualquer sentimento, qualquer emoção pelo fato de que não são nada de objetivo, está partindo do princípio errado de que todo e qualquer sentimento, por definição, é irracional.
“A finalidade da educação humana deve ser inculcar no homem aquelas respostas que são, em si próprias, adequadas perante a realidade. É a isto que tradicionalmente se chamou de formação. Quando não se acredita nisto, a única maneira de educar para viver em sociedade é condicionando os tipos de respostas (chegando a um acordo consensual, no estilo do ‘Politicamente Correto’), pois caso contrário poderá se chegar facilmente ao estágio atual onde não se acredita em nenhum valor e onde as respostas emocionais são imprevisíveis.”(7)
O tipo de homem manufaturado pela técnica – o homem prático – é um homem sem coração. Um homem que se refugia numa falsa objetividade e num compromisso com a verdade que, de maneira alguma são convincentes. A vida não é isso. O sentimento não é isso. As coisas não são isso aí que os homens práticos querem.
Não podemos estranhar-nos se muitas vezes, como afirma Lewis, sentimos falta de energia e de iniciativa na sociedade atual. Não foi a própria sociedade quem criou esses homens sem coração? Não podemos queixar-nos se agora cada vez é maior o número dos covardes, dos traidores ou dos fracos. Não foi a nossa educação quem lhes ensinou a não dar valor aos sentimentos? Não tem sentido ficar preocupados porque o homem moderno parece um autômato, sem nenhuma capacidade para criar soluções e dar respostas aos desafios modernos. Afinal de contas, como vamos exigir que sejam fecundos se lhes castramos a fonte da criatividade!
Rafael Ruiz é graduado no curso de História na Faculdade de Filosofia e Letras de Sevilla (1973-75). Cursou de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (1976-1980). Mestre em Direito Internacional Público pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Doutor em História da América pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Comentarista, professor, palestrante, consultor.