1. Um dos piores vícios do nascente movimento conservador brasileiro é o excesso de atenção dada à política. Há poucas pessoas em nosso meio que se dedicam a temas alheios, ou mesmo paralelos, à política. Todo conservador, hoje, almeja fazer análise ou militância política.
2. Com isso, além da proliferação de análises de péssima qualidade, indignas do nome, há um enorme desperdício de talentos. Gente que poderia estar falando sobre literatura, música, cinema, games, ciência, etc e causando um impacto muito maior acaba perdendo tempo com política.
3. Aqueles que tentam se dedicar a outros temas acabam não recebendo a atenção que deveriam receber. Preferimos promover cem indivíduos falando as mesmas coisas ou noticiando as mesmas notícias do que diversificar e promover quem tem potencial para furar as nossas bolhas.
4. Além disso, há, em nosso meio, um verdadeiro vício em rótulos explícitos: não basta ser músico, tem que ser “músico de direita”; não basta ser comediante, tem que ser “comediante de direita”; não basta ser gamer, tem que ser “gamer de direita”. Isso tira todo o nosso apelo.
5. Se posso lhe oferecer uma sugestão, eu sugeriria não focar apenas no nicho conservador e, sim, em públicos maiores; em quem é conservador mas está cansado de falar de política; em quem é conservador mas ainda não sabe; em quem até gosta de política, mas prefere outros temas.
6. Diversifique os temas de que você trata. Volte a dedicar mais tempo a outros assuntos. Fale, escreva, grave vídeos sobre Religião, Filosofia, Arte, História, Ciência, Entretenimento… Produza coisas que os outros queiram compartilhar mesmo discordando politicamente de você.
7. Muitos dos nossos adversários não se tornaram eficientes “mensageiros políticos” por falar de política o tempo todo. Pelo contrário, eles alcançaram essa eficiência justamente por falar sobre outros assuntos e tratar de política apenas ocasionalmente, quando necessário.
8. Em um momento em que nossos adversários tentam nos destruir justamente por meio da ideia mentirosa de que não há, em nosso meio, jornalistas, escritores, acadêmicos, artistas, etc., mas apenas “militantes”, seria uma estupidez enorme não mostrar o quanto eles estão errados.
9. Também pare com essa bobagem de exigir pureza de aliados e aliados em potencial. Você já notou o quanto o Presidente valoriza o apoio de atletas e artistas que mal falam sobre política, e que talvez não entendam uma fração do que entendemos, mas são simpáticos a ele?
10. Isso ocorre porque, mesmo quando essa simpatia vem acompanhada de ressalvas e críticas pontuais, ela produz efeitos fora do campo estreito da política e alcança pessoas que não estão, necessariamente, prestando atenção em Brasília ou nas disputas políticas do dia a dia.
11. É por isso que alguém que mantenha um bom canal sobre carros, sobre esportes, sobre cinema ou sobre qualquer outra coisa no Youtube pode ajudar até mais do que alguém que só fala sobre política, a menos que esta pessoa seja realmente vocacionada e tenha talento para isso.
12. Falar apenas para convertidos, dedicar-se a brigas intermináveis que não fazem nenhum sentido para quem olha de fora, ou tratar de assuntos óbvios com perspectivas mais óbvias ainda é uma perda de tempo. Pare de agir assim e ajude a expandir nossa tenda.
13. Note que não falo aqui da politização de todas as esferas da vida, problema ainda mais grave, e que não estou dizendo para deixarmos de falar sobre política; digo apenas para fazermos isso de modo mais inteligente, e não de modo óbvio, como cada vez mais estamos fazendo.
Nota O título e o subtítulo são do olivereduc.com
Fonte: Filipe G. Martins é professor de política internacional e analista político.