A ética não deve se restringir aos atos econômicos, mas a tudo o que fazemos na vida. Para compreender essa afirmação é importante ter em vista que o homem já nasce com uma destinação transcendental e, diante da grandeza dessa transcendência, permanece um tempo muito curto aqui nesse mundo. Então, tudo que nós fazemos deve ser voltado para esse fato metafísico e por isso é importante prestar atenção na importância dos valores éticos e morais.
Um ato econômico pode ser classificado, do ponto de vista ético ou moral, ou ambos, como um ato bom, um ato neutro ou um ato mau, ou seja, como certo, neutro ou moralmente errado. Um ato bom ou certo, por exemplo, é comprar leite em pó e distribuir entre pessoas necessitadas, que não têm dinheiro para comprar leite. Um ato errado seria comprar ou vender uma droga qualquer em uma boca de fumo. E um ato neutro é, por exemplo, comprar uma camisa nova, um relógio, um livro, uma estátua, vender um sapato, uma caneta, um sofá para alguém, etc.
A maioria dos atos econômicos pode ser classificada como moralmente neutros. Acontece que a economia, a ciência econômica, é aética, isto quer dizer, ela não se orienta por valores éticos, não tem epistemologicamente preocupações de natureza ética, de natureza moral. Embora saibamos que a economia de mercado, do ponto de vista moral, seja superior a qualquer outro tipo de economia controlada pelo Estado, este é outro assunto, a ser estudado em cursos de sistemas econômicos comparativos. Mas, sendo a ciência econômica aética, é evidente que os mercados que fazem parte da economia, também são aéticos. E do ponto de vista da Escola Austríaca e dos economistas liberais – não aqueles “liberais com aspas”, mas os sem aspas e com vergonha -, os mercados funcionam sempre. Só que eles podem funcionar para o bem ou para o mal ou podem não influenciar sob o ponto de vista de fazer o bem ou fazer o mal, simplesmente podem ser neutros.
Sim, os mercados funcionam sempre. O que quero dizer com isso? Ora, que o mercado de cocaína funciona tão bem como mercado de fraldas. Cocaína é uma coisa moralmente abjeta, comprar ou vender cocaína ou qualquer droga, é indefensável. Comprar fraldas, supostamente, é uma coisa boa, do ponto de vista moral. Apesar disso, tanto o mercado de drogas como o mercado de fraldas funcionam: se houver um aumento na demanda de cocaína, o preço da cocaína vai subir; da mesma maneira, se houver aumento na demanda de fraldas pelo fato de as pessoas passarem a ter mais filhos, o preço das fraldas vai ser maior. E se a oferta aumentar, tanto a de drogas como a de fraldas, ou a de qualquer outro bem ou serviço, a tendência é o preço cair. Então, vejam só como são importantes esses valores éticos e morais, tendo em vista a eternidade do destino final do homem.
Uma sociedade que se guia por princípios consagrados pela tradição, mais especificamente, no ocidente, pela tradição judaico-cristã, é muito diferente de uma sociedade onde prevalece o relativismo moral, porque no primeiro tipo de sociedade existe uma distinção claríssima entre o que é certo e o que é errado. Já na segunda não, tudo depende das circunstâncias, tudo é relativo. Ora, se tudo é relativo, qualquer coisa, em princípio, pode ser defendida e não é por outra razão que há teses advogando que presos precisam ser soltos e bandidos não devem ser punidos, porque são vítimas da sociedade.
Não! O que é certo é certo e o que é errado é errado. E trata-se de escolhas sempre individuais. O relativismo moral é a confusão entre o certo e o errado, o que a gente sabe o que é certo, pode não ser tão certo assim e o que gente sabe pela tradição que é errado, pode não ser tão errado assim. Quem não ouviu argumentos desse tipo: “Aquele cara não tem culpa de ser um assaltante, porque a sociedade é malvada”?
Essa aceitação do errado como sendo certo e essa condenação do certo como podendo ser errado, essa relativização moral, pode jogar qualquer sociedade na lona. Ou seja, pode acabar com qualquer possibilidade de convivência social aceitável. Em suma, os valores éticos e morais são muito importantes.
E – para finalizar esta nossa rápida conversa -, peço que, por favor, pensem nisso e repitam uma, duas, cem, mil vezes o que é certo é certo e o que é errado é errado. Em assuntos de natureza moral, não existe esse negócio de se comportar como um camaleão. Quem pratica uma ação, seja essa ação moralmente correta ou não, o faz por sua livre e espontânea vontade. Enquanto a sociedade ficar na zona sombria do relativismo moral, nem a economia e nem a política podem ir para frente, no sentido de cumprirem suas finalidades naturais. A gente vai ficar enxugando gelo. Dos três sistemas sociais, o econômico, o político e o ético-moral-cultural, o último é o mais importante, porque deve ser a base de todas as atividades econômicas e de todas as atividades políticas.
Nota:
(Artigo transcrito diretamente de um vídeo curto que postei no Instagram, daí o seu tom coloquial)
Artigo do Mês – Ano XX– Nº 226 – Fevereiro de 2021