Ao lermos o título desta reflexão, certamente alguns se surpreenderão, pois, na realidade trata-se de três conceitos distintos, cuja combinação não parece ensejar qualquer lógica para tê-la como uma afirmação. Afinal de contas, seria a Educação uma Ética, e ainda mais, uma Ética da Inclusão?
Pois bem, o que falar sobre esta afirmação aparentemente absurda, para que, depois de revista e repensada, seja aceita? Com este propósito, iniciarei falando um pouco de cada um destes três conceitos, distintamente, para depois argumentar em favor desta afirmação.
Educação, Ética e Inclusão são três vocábulos surgidos em diferentes épocas, mas que, de igual modo a tantos outros, referem-se a conceitos milenares, assimilados pela humanidade, independentemente de se ter uma palavra para identifica-los. Epistemologicamente, entende-se que a assimilação de certo conceito é muito mais importante que a memorização da definição tradicional, impositiva, ou de um significado reducionista.
Lembremo-nos de que não é raro termos pessoas confundindo Educação com Ensino, Ética com conjunto específico de regras ou normas de conduta, e mesmo Inclusão com Integração ou Inserção. Estas confusões, embora recorrentes, não deveriam existir, sobretudo no meio político e menos ainda, no acadêmico. Tais confusões ocorrem pois geralmente não se pensa na assimilação dos respectivos conceitos, mas apenas em suas definições.
Grosso modo, a Educação, que tem o Ensino com uma das ações necessárias para que ocorra, mas não a única, refere-se à formação do ser humano como ser político, em seu conceito pleno, portanto, um cidadão com todas as prerrogativas que deverá ter, mediante sua própria dignidade. Educar, do Latim, Educare, significa “conduzir para fora, para o mundo”. O conceito de Educação, portanto, é muito mais que ensinar, Educar é transformar conhecimentos em saberes, é construir um ser humano como ser político, na plenitude social, como gestor de uma família, bom profissional e construtor de um legado de grande proveito para suas sucessivas gerações.
A Ética, por sua vez, estudada a partir da Grécia Clássica, e entendida como um dos ramos da Filosofia, já era assimilada por grandes nações, estabelecidas antes desta época. Os antigos Egípcios e especialmente o povo Hebreu são dois exemplos de culturas que possuíam o conceito de Ética desde muitos séculos da Filosofia Grega ou do surgimento do vocábulo que o identifica. A Ética, muito mais que um pequeno conjunto de regras apresentado a um grupo de pessoas, está ligada a princípios e valores de natureza moral inerentes a uma cultura.
Por fim, a Inclusão, um conceito também polêmico, que não raras vezes é confundido com Integração e até com Inserção, pressupõe, sem redundância, a Exclusão. Ao se falar de Inclusão Social e, de modo particular, de Inclusão Escolar, é necessário dizer inicialmente que tal ato não se refere a um ou outro caso específico, como etnia, sexo, profissão, religião, classe social, ou de pessoas com deficiência, dentre outros, mas a um todo, a uma ação política plural, em nível nacional.
Inclusão implica em interação sem restrições por aversão ou mesmo certa fobia. Incluir é mais que inserir ou integrar, é criar condições de acessibilidade em todos os aspectos, com o mesmo grau de oportunidades disponível para toda a população.
Nesse contexto, entendo que é impossível formar um ser humano em sua plenitude política, se não existir este mesmo grau de oportunidades, portanto, se não se promover a inclusão social e particularmente a inclusão escolar, de acordo com seu mais profundo e abrangente conceito. A Inclusão deve ser assimilada como mais um princípio ético, inerente às diferentes culturas e, por consequência como mais um componente da Educação.
Educação é um ato político, de responsabilidade múltipla das instituições sociais basilares, como Estado, especialmente por meio da Escola; Família, com distinção para os pais; e, para o caso dos professos religiosos, a Igreja. Estas instituições devem ser cúmplices na Educação, desde a mais tenra idade do indivíduo, até seu último instante de vida. Segundo o psicanalista alemão Erik Erikson (1902 – 1994), o ser humano se desenvolve continuamente, desde sua geração no ventre materno, até sua morte, por isso, sempre é tempo para educar e ser educado. Mais que termos uma Educação ética e inclusiva é termos uma Educação como uma Ética da Inclusão.
Ítalo Francisco Curcio é doutor e pós-doutor em Educação. Pesquisador no curso de Pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.