Valter de Oliveira 10/07/2009
Certa vez, o Senhor disse aos que o escutavam: Como vês a palha no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu? Ou como ousas dizer ao teu irmão: Deixa que eu tire a palha do teu olho, tendo tu uma trave no teu? Hipócrita: Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás tirar a palha do olho do teu irmão. (Mt 7, 3-5). Isto é o que Deus nos pede, ou melhor, nos manda. É difícil porque somos orgulhosos. Porque facilmente aumentamos as faltas dos outros. Pior, frequentemente tendemos “a projetar nos outros o que na realidade são imperfeições e erros próprios” (1). Por outro lado, quando se trata de olhar nossas más ações procuramos diminuir e justificar nossos defeitos pessoais. Nossa trave passa a ser uma simples palha. A atitude de quem é humilde, ou seriamente procura sê-lo, ajuda-nos a ter a mansidão evangélica. A convivência passa a ser suave, doce, humana, cristã. Sabe que todos temos a tríplice concupiscência, que temos misérias, que necessitamos da misericórdia de Deus. E daí se trata o próximo com benignidade, desculpando e perdoando quando necessário. Não se esquece que só Deus lê os corações e os rins. Curioso que tudo isso é perfeitamente sabido por qualquer cristão de instrução média. Mas, infelizmente, há um abismo entre o conhecimento e a prática. Em minha vida já vi essa contradição entre os que se gabam de ter muita fé e ortodoxia. E a sinto em minha própria vida, quando miseravelmente não tenho paciência com meus filhos e minha esposa. Ou quando ponho pequenos defeitos de meus amigos acima de suas grandes qualidades… Então, não temos que ver os defeitos? E combate-los? Claro que temos. E por isso a Igreja nos aconselha a fazer um sério exame de consciência todos os dias. Para ver e combater nossos defeitos. E os do próximo? Eis o conselho de Santa Teresa: Procuremos sempre olhar as virtudes e coisas boas que vemos nos outros, e tapar os seus defeitos com os nossos grandes pecados. Ainda que depois não o consigamos com perfeição, este é um modo de agir que nos faz ganhar uma grande virtude, que é a de termos a todos por melhores do que nós. E assim começamos a ganhar o favor de Deus”. (2) Em nossa vida diária, em casa ou no trabalho, encontramos muitas deficiências e mesmo pecados externos. Vemos murmurações, grosserias, atos vingativos, até violência. Conforme as circunstâncias podemos ter a obrigação de intervir. Mas, em geral, nossa atitude pessoal deve ser positiva, isto é, saber olhar com misericórdia, com caridade. Em primeiro lugar devemos rezar por todos, “desagravar o Senhor, crescer em paciência e fortaleza, querer-lhes bem e aprecia-los mais, porque necessitam mais da nossa estima.” (3) Não foi esta a atitude de Cristo com os apóstolos apesar de todas as suas misérias? A lei de Deus não nos manda amar apenas os bons, ou os que nos agradam, ou que nos fazem bem. Manda-nos amar a todos. Até os inimigos. E mesmo estes, ensina-nos a moral católica, temos a obrigação de tratar com a devida cortesia. Tudo isso é para ser realizado cotidianamente. A atitude de humildade exige que “a nossa atitude deve ser sempre aberta, amistosa, desejosa de ajudar a todos. E não se trata de viver essa virtude com pessoas ideais, mas com aqueles com quem convivemos ou trabalhamos.” (4) Vamos encontrar a preguiça e a inveja, a murmuração e a soberba, a impureza e o ódio. Ou simplesmente o mau humor de quem levantou indisposto ou cansado. É aí que temos que praticar a caridade. Temos que conviver, estimar e ajudar seres humanos reais que Deus colocou em nossas vidas. Se tivermos a graça de sermos assim não tomaremos como norma reparar na palha no olho alheio. A caridade crescerá em nossas almas. E saberemos saborear as doçuras do amor de Deus.
Notas: Todas as citações foram extraídas da obra de CARVAJAL. Francisco Fernandez. “Falar com Deus”, vol.3. Quadrante, São Paulo, 1990. p. 500 -502. |