O HOMEM-MASSA

Valter de Oliveira

No artigo anterior – “O indivíduo François Dupont” – do historiador Pierre Gaxotte, dissemos que iríamos postar também seus comentários sobre o homem-massa. Na verdade, seu conto era uma sátira a um mundo moldado segundo certa visão de socialismo com que muitos sonhavam. Hoje, em que pese a queda do socialismo real, parece crescer, em certos círculos, o desejo utópico de uma república universal globalista que irá controlar cada vez mais os cidadãos. Não é mito e nem teoria da conspiração, muito pelo contrário. Dou só um exemplo:  quando saí dos EUA, em julho de 1977, tive a oportunidade de ler um artigo do New York Times, no qual Rockefeller, que se retirava da vida profissional dizia: -“Agora posso me dedicar ao que mais desejo: trabalhar para que o mundo venha a ser uma república universal”.

            Será que era o único magnata que sonhava com isso?

           Não sei como foi que ele fez tal trabalho. Também não sei até que ponto seus ideais são aqueles dos arquitetos do globalismo tão criticado por grupos conservadores. O que me parece é que, queiramos ou não, a própria tentativa de implantação de tal república, já está tornando cada vez mais difícil para os “cidadãos do mundo” manter suas liberdades. As barreiras estão ficando mais poderosas, mais altas. Se as castas que dominam Brasília não nos ouvem, imaginem qual será o poder dos cidadãos diante de um gigantesco Estado Global ávido em controlar nossas vidas nos mínimos detalhes.

Claro que na promessa dos engenheiros sociais – com um poder cada vez mais alicerçado na tecnologia e em uma ciência cientificista – não devemos ficar preocupados. Só querem fazer um mundo melhor e um novo homem. Nada de novo. É o centenário slogan dos socialistas.

Pierre Gaxotte, contudo, considera que este mundo está sendo engendrado a partir da formação de seres humanos cada  vez mais massificados. Conforme ele:

            “O homem-massa é semelhante ao viajante sem bagagens. Ele está sempre disponível, sempre ao alcance, sempre dócil. Ele é indiferente à verdade, ao erro, impermeável à crítica, insensível às contradições…”

            “O homem-massa é aquele que perdeu uma parte bastante grande de si mesmo para seguir passivamente a atração das semelhanças que o confundem na multidão, que aniquilam nele as maneiras de ser e de pensar, para fazê-lo representante (talvez glorioso) dos conformismos coletivos”.

            “O espírito de massa não é nem o espírito dos “campagnonnages” nem o espírito “des corps”. (1). Ele não se move nem por uma adesão reflexiva e revogável a um catecismo, a um programa, a um estatuto, nem por uma participação ativa e entusiasta na atividade de um corpo constituído para a defesa de interesses preciosos. É por um fenômeno insensível, pela ação quase mecânica duma força obscura que rola e o remexe como o mar revira as seixos  na praia, que um indivíduo perde seus ângulos, seus relevos, seus traços, seus reflexos, para tornar-se um homem-massa, um entre os outros, um anexado aos outros, um que não é nada a não ser quando junto com os outros…”.

            “Ortega y Gasset dizia que o homem-massa é a principal criação do século XX”

Fonte: Thème et Variations par Pierre Gaxotte, Ed. Fayard. 1957.

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