EDUCAR A VONTADE: TAREFA PRINCIPAL

Ariovaldo Esteves Roggeiro

         A vontade é quem governa a vida e decide sobre as escolhas. Os pais devem perceber que o segredo da educação não está na inteligência, mas no fortalecimento da vontade dos filhos, a fim de que queiram fazer o que deve ser feito.

         O querer é uma inclinação da vontade ligado à racionalidade: a inteligência compreende algo e a vontade adere com o seu querer ou não querer ao que a inteligência mostrou. Já o gostar ou não gostar não está ligado à razão, mas à sensibilidade ou afetos (sentimentos, emoções, paixões): quem gosta de mousse de limão inclina-se a ele não racionalmente, mas porque agrada ao paladar, o que não significa que o gostar de algo deva ser aceito sem passar pelo crivo da razão: se a pessoa é diabética, a inteligência lhe dirá para não comer o doce. É importante não confundir o querer da vontade, que tem um componente racional (quero aquilo que a inteligência me mostrou ser bom), com o gostar de tal tipo de alimento, desse ou daquele esporte, de certas músicas e não de outras, ligados à sensibilidade e não à racionalidade.

         Se as faculdades reitoras das ações dos filhos não forem a inteligência e a vontade, mas a sensibilidade, então eles só farão aquilo que agrada ou dá prazer e não o que devem fazer. Se a inteligência indicar ao adolescente que deve estudar, só conseguirá essa proeza se a vontade dele superar o mau sentimento da preguiça, pois caso contrário não estudará nem amarrado na cadeira, tendo um livro aberto a palmo e meio do nariz.

“A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar”

         Inteligência e vontade são duas irmãs muito unidas: a Inteligência gosta de pensar, é curiosa, irrequieta e está sempre procurando conhecer as coisas para apresentá-la à maninha vontade, a fim de que esta decida o que fazer, porque nela reside o livre arbítrio ou a capacidade de agir sem que ninguém a obrigue. Por isso, não é suficiente que os filhos compreendam (inteligência) a necessidade de estudar, mas devem querer (vontade) estudar, pois só assim o farão. Por mais que a inteligência indique o que fazer, a ação só surgirá se a vontade não estiver dominada pelos sentimentos, que aliás deveriam apoiar a vontade, se estivessem bem educados por meio das virtudes. A imagem da pessoa governada pela sensibilidade é a do cavaleiro que não tem as rédeas do cavalo firmes nas mãos, e por isso se deixa levar aonde o animal se inclinar.

Cumprir pequenas tarefas ainda que, no primeiro momento, as desagradem

         As crianças podem controlar seus impulsos e desejos desde muito cedo, quando orientadas a agir assim. Aprendem a realizar não apenas o que gostam, que é sempre o mais fácil e agradável, mas também a cumprir as pequenas tarefas atribuídas a elas, mesmo no primeiro momento as desagradem. Mas para vencer a barreira inicial dos sentimentos contrários, necessitam ganhar bons hábitos que as fazem perder o medo de se esforçarem. Como fortalecer a vontade dos filhos para que possam agir contrariamente ao império do gosto? Essa é uma boa questão. Para fortalecer o querer dos filhos são necessárias duas atitudes dos pais: 1) Oferecer a eles motivos, razões ou valores que fortaleçam a vontade para agir de acordo com a inteligência; 2) Ajudá-los a desenvolver as virtudes humanas.

         Os motivos ou valores de conduta são mais eficazes que o autoritarismo de obrigar à força, porque isso não estimula o querer da vontade para agir livremente, e nada será realizado na ausência dos pais. Ao explicar aos filhos sobre a bondade ou malicia de certas ações, a distinguir entre o verdadeiro e o falso, o certo e o errado, os pais iluminam a inteligência dos filhos com valores que serão assumidos e fortalecerão a vontade deles para agir até contra sentimentos contrários. Por exemplo, ao explicar aos filhos sobre a importância de desenvolverem os dotes e qualidades que Deus lhes deu, a fim de serem colocadas ao serviço dos demais, ao ajudá-los a compreender que o verdadeiro amor é doação de si mesmo e que qualquer ideal valioso exige esforço para ser alcançado, estimulará e fortalecerá a vontade deles para realizar o bem, e cada vez que isso ocorrer, a vontade se fortalecerá ainda mais.

          O outro caminho para fortalecer a vontade dos filhos, a fim de que queiram fazer o que deve ser feito, é o das virtudes humanas, que deve começar pela educação dos afetos desde os primeiros anos de idade da criança. Já a partir dos 2 anos a criança pode ganhar hábitos bons (e não maus hábitos), como o de cumprir suas pequenas obrigações: jogar no lixo a fralda suja, guardar nas respectivas caixas os diferentes brinquedos; limpar o que sujou; vestir-se sozinha; ter horários para dormir, acordar, banhar-se e fazer as refeições; não sair para brincar enquanto não fizer a lição escolar e tirar o pó dos móveis e enxugar o chão do box do chuveiro, etc. Esses pequenos hábitos de autodisciplina se transformarão nas virtudes da fortaleza, laboriosidade, ordem e aproveitamento do tempo, que alavancarão a vontade deles para superar os afetos contrários ao que deve ser feito.

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