A ALEGRIA DE MOTIVAR CRIANÇAS

Sonia Rosalia Refosco de Oliveira

Todo bom professor sabe o quanto é necessário ser criativo para tornar uma aula mais atraente, prender a atenção do aluno, criar gosto pela disciplina, enfim, fazer com que os alunos queiram fazer alguma atividade proposta.

Hoje fiquei sabendo de uma professora de português, de Itabirito, Minas Gerais, que propôs pequenos passeios num Fusca 1980 caso seus alunos do 7º ano se empenhassem mais na leitura de livros paradidáticos. E não é que funcionou? Os alunos, motivados pela sorridente professora Gilmara, puseram-se a ler vários livros propostos pela docente e, assim, ao atingir a meta da Gincana de Leitura, ganhavam um passeio no Fusquinha João Bolinha.

Segundo a notícia 80% dos alunos nunca tinham andado num Fusca e esse foi o “pulo do gato” que tirou os adolescentes da inércia para lutarem por um assento no cobiçado João Bolinha. Tudo isso, é claro, devidamente autorizado pelos pais.

A cabeça de um professor está sempre ligada no 220, pensando e bolando novas atividades para envolver a turma.

No 4º bimestre, tendo que ensinar o uso dos “dois pontos” e do “travessão”, pensei em um diálogo entre dois alunos de minha turma: 3º ano do Fund I. No meu planejamento semanal constava uma aula de 40 minutos, na qual montaria um diálogo, criado ao vivo e em cores, onde dois dos alunos se encontrariam, por acaso, em uma cafeteria, 20 anos depois. Estariam, então, com 28 anos.

Não precisou muito para que a turma toda se envolvesse de tal forma que todos queriam estar na história. Como seriam fisicamente?  Que profissões escolheram? Estariam namorando? Teriam se casado? Quantos filhos? A coisa pegou fogo de tal forma que todos falavam, davam ideias, riam, surpreendiam-se com o rumo das conversas que iam surgindo.

Eu havia deixado três alunos por último e todos estavam ansiosos para saber como entrariam na história. Até que, depois de muitas conversas, revelações, surpresas, aparecem os donos da cafeteria. Dois sócios e amigos de infância. Colegas desde o 3º ano. Foi uma alegria reencontrar quase todos os amigos. Ainda faltava uma delas.

De repente, entra na cafeteria uma linda moça. Todos olham para ela e sem acreditar no que veem, reconhecem a amiga de 20 anos atrás. Como estava bonita e elegante. Todos se abraçaram e perguntaram para ela o que fazia, que profissão havia seguido. Ela, então, docemente lhes conta que é professora na mesma escola onde todos se conheceram e, por coincidência, professora do 3º ano do Fund I.

A história termina com um convite para que todos apareçam na escola para fazer uma visita e possam, então, matar saudades dos seus tempos de 8 ou 9 anos.

Todos já devem ter percebido que meu planejamento de uma aula de 40 minutos estendeu-se por mais tempo e isso é muito normal quando você percebe que os alunos estão motivados, participando ativamente, felizes, aprendendo com prazer o complexo uso dos “dois pontos” e “travessão”.

E a mente nunca para de buscar novidades. Basta um motivo…

Em um outro momento percebendo que alguns poucos alunos andavam cabisbaixos e desestimulados consigo mesmos, bolei uma atividade na qual colocaríamos em prática o uso dos adjetivos. De forma anônima, cada aluno escreveria num pedaço de papel três qualidades de cada colega. Eu lançava o nome de um deles e todos, menos o escolhido, escreveria o que mais chamava a atenção naquele colega. Depois todos os papéis eram colocados num saco plástico onde estava escrito o nome da criança. Só poderiam escrever coisas boas e positivas. No fim eu tinha 26 sacos plásticos repletos de qualidades a serem reveladas.

Levei-os para casa, fiz uma planilha com os resultados, imprimi, colei em cartolinas com os nomes dos alunos cobertos por um papel. O nome da atividade era “O que meus amigos pensam de mim”.

Cada aluno deveria ler as diversas qualidades ressaltadas pelos colegas e tentar descobrir qual grupo delas era dirigida a si.

O resultado foi incrível, pois descobriram que eram vistos como pessoas alegres, generosas, inteligentes, responsáveis, sensíveis, doces, etc. Bons amigos, excelente goleiro, dona da letra mais bonita, o melhor na defesa, a mais sorridente, etc.

No final da atividade os alunos cabisbaixos e desestimulados estavam felizes. Puderam ver em si mesmos as qualidades que realmente tinham, mas que o momento não os permitia ver. Todos perceberam que ser bonito ou bonita era o que menos importava, pois eram cheios de qualidades repletas de valor.

Quantas e quantas atividades são criadas, inventadas, pensadas, refletidas e colocadas em funcionamento para ver um sorriso gostoso, para ter um aprendizado eficaz, para observar o desenvolvimento intelectual e pessoal de cada criança.

O trabalho do professor nunca acaba. Nada passa despercebido a um professor atento e a nossa maior alegria é perceber o quanto cada aluno cresceu e se desenvolveu, sempre comparado a si mesmo, porque cada um é único e tem sua importância como pessoa cuja grande meta é encontrar o seu caminho e ser feliz nesse encontro. Caminho que deve levá-lo a conhecer e viver com sede do absoluto.

Tags , .Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.