Ubiratan Iório Jorge de Souza 19/10/2009
O governo do PT e seus aliados estão de olho gordo na Vale, a maior empresa privada brasileira.
Embora não tenham manifestado abertamente (ainda) pretensão de re-estatizá-la, querem porque querem assumir o seu controle, nomeando diretores e assessores que rezem por sua cartilha. Naturalmente, para enchê-la de companheiros e mais companheiros… Com esse fim, vem desencadeando fortes pressões, inadmissíveis em uma democracia cuja Constituição respeita os princípios da economia de mercado: o ministro Mantega bateu boca, há alguns meses, com o presidente da mineradora, Roger Agnelli, por causa da demissão de um apaniguado seu de um cargo na diretoria; na semana passada, Lula recusou-se a receber Agnelli em audiência; no auge da “marolinha”, quando a empresa, para enfrentar a queda nas receitas, efetuou demissões no Brasil e em outros países, Lula – um PhD em Economia que desconhece o fato rudimentar de que, a não ser que sejam proibidas por alguma mágica, quedas em receitas, segundo os princípios de boa administração, exigem cortes em custos – “revoltou-se” e passou um “pito” público em Agnelli; não satisfeito, reclamou que a empresa preferia comprar navios no exterior, ignorando ou fingindo desconhecer que essa prática sai mais barata e é também mais rápida do que a de adquiri-los no país; e, para completar, o governo do PT ameaçou criar um imposto de 5% sobre as exportações de minério, o que representaria um forte golpe contra a empresa.
Quando, ainda no primeiro tucanato de Fernando Henrique, resolveu-se privatizar a Vale, o principal “argumento” da seita de adoradores do Estado-elefante, formada por petistas, nacionalistas, trabalhistas, sindicalistas, socialistas, comunistas e congêneres, era o de que a privatização da empresa iria gerar desemprego. Ora, a Vale tinha 10.865 funcionários quando foi vendida em 6 de maio de 1997. Em dezembro de 2008, tinha 60.274… Desde aquela data, a ação ON da empresa subiu 3.433%, bem acima do aumento do índice Ibovespa no período, que foi de 547%. Entre 1997 e 2008, a receita total subiu de US$ 4,97 bilhões para US$ 38,5 bilhões; seu lucro líquido passou de US$ 0,45 bi para US$ 13,2 bi; o montante de impostos que recolheu ascendeu de US$ 0,21 bi para US$ 2,90 bi; seu valor de mercado cresceu de US$ 7,92 bi para US$ 125,27 bi; e seus investimentos, que somavam, em 2002, US$ 2,63 bi, alcançaram US$ 18,73 bi em dezembro de 2008, sendo que a previsão para o ano de 2009, com toda a crise que se abateu sobre o planeta, é de US$ 18 bi; e a empresa transformou-se na segunda maior mineradora do mundo. Estes, sim, são verdadeiros argumentos para demonstrar que a privatização foi uma decisão acertada!
O que o governo está fazendo com a Vale é um enorme retrocesso e, ao mesmo tempo, um aviso de que, se as forças realmente democráticas não colocarem a boca no trombone, irá cada vez mais longe, tal como vem acontecendo na Venezuela, Equador, Bolívia, Argentina e outros países da América Latina. Se permitirem que dê esse passo para trás, logo ele tentará dar outro e mais outro e mais outro. Seu lema parece ser “avante, para trás”!
Fica no ar apenas uma atroz dúvida sobre o real motivo do desejo governo de voltar a controlar a empresa: será por mera ideologia ou apenas para colocar mais levas de apadrinhados em uma empresa que tem se mostrado bastante eficiente? Se for o primeiro caso, é um misto de atraso ideológico com burrice explícita, haja vista os números acima enumerados; se for o segundo, uma imoralidade. E que será ainda maior se por trás dos ataques à empresa houver, como a mídia tem sugerido, algum empresário concorrente versado em usar gabinetes oficiais para obter ganhos privados. Afinal, o que está valendo na Vale? Lula pode ser um ignorante, mas é inegavelmente um sujeito bastante inteligente e esperto. |