18/01/2010
Valter de Oliveira
O 3º Programa Nacional dos Direitos Humanos (PNDH), poderia ter um subtítulo que mostra claramente seus objetivos: “A Marcha para o Totalitarismo”. Em um só documento há golpes claros contra a democracia e a liberdade. E principalmente contra os direitos humanos.
Ao ler o plano de ação do governo petista e do seu desejo de reescrever a História do Brasil lembrei-me de um livro de Marc Ferro: A História vigiada*. Diz o autor no Prefácio:
“Hoje, mais do que nunca, a história é uma disputa. Certamente, controlar o passado sempre ajudou a dominar o presente”. E logo depois: “O conteúdo, os procedimentos e a função de uma obra histórica variam consideravelmente conforme os focos que a secretam (1). Não apenas as análises que se referem a um mesmo problema podem mudar completamente, como também a escolha dos fenômenos analisados é diferente.” (op.cit. p.2,3).
Não é de hoje que a esquerda brasileira procura manipular os jovens pela ideologia revolucionária que impregna inúmeros livros didáticos. Agora o PT, com o III PNDH, resolveu radicalizar impondo sua visão de mundo nos programas escolares. A nova história oficial precisa legitimar os atuais governantes e seus paradigmas. A História da esquerda se institucionaliza. Por quê? A resposta está em outra página do livro de Marc Ferro:
“Pode-se completar esta opinião de Michel de Certeau: a história institucional é também a transcrição de uma necessidade, de certa forma instintiva, de cada grupo social, de cada instituição, que assim justifica e legitima sua existência, seus comportamentos, quer se trate da Igreja, do Estado, do Islão ou do Partido”. (op.cit.p.11).
O Pt não é o PCB, o Partidão, ou o PC da antiga URSS. Eles foram suas matrizes. Vêem a história da mesma forma que seus velhos mentores:
“Quando o foco que secreta a história é o Partido, como na U.R.S.S., a história torna-se, então, na própria acepção da palavra, um assunto de Estado. De fato, a legitimidade do poder do Partido baseia-se na História, e apenas nela, visto que o partido comunista se apresenta como a vanguarda e a expressão da classe operária a quem, segundo a visão marxista da história, cabe a tarefa de realizar a passagem ao comunismo”. (op.cit.p.17)
Continuando a lógica revolucionária:
“Desde 1917 “o partido no poder não aceita que a história dos historiadores, mesmo marxistas, refute as análises dos dirigentes sobre a história que está se fazendo; assim, estes vigiam a produção histórica e seus autores, “pessoas perigosas”, dizia Kruchtchev, pois esses historiadores constituem a única instância suscetível de questionar a legitimidade dos dirigentes” (op.cit.p.17,18)
Passaram-se quase cem anos. É isso que estão instaurando no nosso Brasil.
Curioso que os ideólogos do governo petista, no III PNHD, tenham decidido criar uma comissão da Verdade. Os campeões do relativismo querem a verdade…
Lembra o Ministério da Verdade, de Orwell, com seu famoso duplipensar. O que hoje é verdade amanhã pode ser mentira, e vice versa. Dependia dos interesses do Big Brother. Aqui também é hora dos bandidos virarem heróis. Institucionalmente. E quem defendeu o país contra a investida totalitária de esquerda passa a ser bandido. (2) Seus nomes deverão desaparecer. Em tese porque foram coniventes ou culpados por violações brutais dos direitos humanos.
Paradoxalmente isso não vale para as vítimas do terrorismo. As daqui ou as de qualquer lugar do mundo. Fidel, Guevara, Ho Chi Min, Stalin, Mao Tse Tung, Pol Pot e todos os grandes criminosos marxistas não violaram direitos humanos. Eliminaram inimigos do povo. Na lógica do socialismo “científico” foi algo necessário e justo. Essas figuras “míticas” devem ser veneradas. Lembram-se de Lula e Dilma embasbacados diante do general Giap? (3)
Não contentes em firmar sua “verdade” histórica os tiranetes querem vigiar e controlar os meios de comunicação. Todo órgão da mídia que violar os direitos humanos, leia-se: a visão de mundo que eles têm, deve ser punido.
Claro que não ficaremos por aí. O torniquete será apertado contra os que não se enquadrarem.
Chegarão até lá? Vão ficar só na intenção?
Vai depender da reação dos que realmente defendem o Estado de Direito, a Justiça, a Liberdade, os Verdadeiros Direitos Humanos. Depende de cada um de nós.
Notas:
Os destaques em negrito são do blog
* Ferro, Marc. A História Vigiada. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
(1) No sentido de elaborar, produzir. Aqui a palavra secreta vem de secreção. Uma glândula, por exemplo, secreta, produz uma substância.
(2) Na ocasião Lula o apresentou à ministra Dilma dizendo: “ela tem pelo senhor uma verdadeira adoração”
(3) “Reprovar um lado não significa aprovar tudo que foi feito pelo outro”. Veja, neste sentido, o que escreve Percival Puggina em seu artigo “A Esquerda em Armas de 17 de janeiro”.