GLOBO, BAND, PRESIDENCIÁVEIS


Valter de Oliveira

27/08/2010

No ultimo dia 06 de agosto tivemos o primeiro debate entre os candidates à Presidência da República. Que tristeza! Pobreza dos contendores. Pobreza da mídia cada vez mais conivente com o poder dominante.

O velho Estadão perdeu os dentes, esqueceu os velhos ideais democrático-liberais. Não sabe ou não quer mais fazer verdadeira oposição. Ou pelo menos retratar a realidade do melhor modo possível.

Na opinião do jornal tivemos um debate amistoso: “O primeiro debate entre os candidatos (…) surpreendeu pelo tom amistoso com que se trataram os participantes”. Reconhece que ele foi “monótono” mas empenha-se em mostrar que foi “uma discussão sem ataques pessoais, jogadas ensaiadas de marketing e frases feitas destinadas a causar impacto na audiência eleitoral”. Depois disso o artigo alinhava de modo tranqüilo o que foi dito por cada um dos candidatos. E no meio resolve dizer que “houve um certo amadurecimento da disputa eleitoral”. A atuação dos candidatos foi, diz o articulista, um convite ao sono dos expectadores. Sono tão forte, dizemos nós, que se fez presente no próprio artigo do Estadão…

Já a Band teimava em dizer que o debate foi mais uma contribuição para nossa democracia. Nem uma explicação sobre o fato de se fazer um debate às dez da noite em noite de final de Libertadores…

A Globo – que se apresenta como defensora da democracia e da conscientização política de nosso povo – deu um jeitinho de transferir o jogo do São Paulo para as dez da noite…Parece que não convinha um possível fiasco de D. DIlma diante da audiência global.

Houve também quem propagasse com alegria o grande desempenho do Sr. Plínio de Arruda Sampaio. Repetir velhos e demagógicos chavões e chamar Marina de Polliana é, para certa mídia, um exemplo esfuziante de sagacidade…

E o nosso povo, o que pensa?

Entre as pessoas mais simples e até da classe média uma parte estava atenta ao jogo. Outra já tinha ido dormir. É preciso acordar cedo para ter o pão de cada dia. Menos de 3% dos expectadores assistiu os quatro presidenciáveis.

Leitores de jornal – em geral mais bem informados – viram a realidade melhor do que a mídia. Li a opinião dos leitores do Estadão. Dão um banho de visão política em jornalistas e analistas que se esqueceram da verdadeira missão da mídia.

Selecionei apenas 4 delas. Muitas outras poderiam ser citadas.

Extrema delicadeza

Como eleitor e cidadão brasileiro, fiquei decepcionado com o debate promovido pela Band. Não sei se foi engessamento por parte da emissora ou da assessoria dos candidatos, pois o que se viu foi uma delicadeza extremada dos dois principais concorrentes. Entendo que os brasileiros precisavam ouvir, com firmeza e em detalhes, o que a candidata do governo tem a dizer sobre o envolvimento do PT com as Farc e com o MST e sobre o programa de governo com relação à liberdade de imprensa e todas as formas de comunicação. Ninguém abordou esse tema! Por quê? Foi medo de enfrentar a petista? Medo por quê, se ela estava tremendo e gaguejando? Foi uma pena!

JOÃO MAGRO VENTURA

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São Paulo

 Partida provinciana

Como esperável, nosso “homem cordial” preferiu o embate entre o glorioso Tricolor Paulista e o combativo Colorado gaúcho ao debate dos presidenciáveis. Não perdeu muito. O modorrento confronto só foi quebrado por algumas pedaladas démodés de Plínio de Arruda Sampaio, cuja notória inteligência parece haver sido enterrada sob os escombros ideológicos dos anos 60. O que causou mais espécie foi a absoluta irrelevância a que os candidatos e os próprios jornalistas relegaram os temas internacionais e as desastradas intervenções do governo brasileiro no campo das liberdades públicas e dos direitos humanos em suas relações com os outros países, como, por exemplo, a ameaça global – e, por evidente, aos brasileiros – que hoje representam as ditaduras de Coreia do Norte e Irã. Enfim, o futebol da Libertadores preponderou sobre uma partida provinciana.

AMADEU R. GARRIDO DE PAULA

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São Paulo

MUDANÇA DE DATA

Parabéns, Rede Globo! Vocês alcançaram o objetivo. Com a força que têm, conseguiram mudar a data do jogo entre São Paulo e Inter (noticiado em 17/6/2010) e o resultado foi o Ibope de 28 a 5 para a Globo. É claro que o povão (e não estou nem falando dos que recebem a bolsa-esmola) prefere assistir a uma semifinal (com gosto de final) de Libertadores a um debate para presidente. Com isso a candidata chapa-branca continuou pouco conhecida por aqueles que podem fazer a diferença na hora do voto. Quem conhece a situação da dívida que a Globo tem com o BNDES não pode imaginar que tenha sido mera coincidência a mudança da data. Eu não me lembro de ter visto, nos últimos 15 anos, uma semifinal de Libertadores envolvendo clube brasileiro ser disputada em outro dia diferente de quarta-feira.

Sergio Luis dos Santos

[email protected]

 São Paulo

 BURRICE E MENTIRAS

Dilma mentiu de novo: o DEM não recorreu contra o ProUni, mas sim contra o racialismo da proposta. Quem chamava as diversas “bolsas” do governo FHC de “esmola” era Luiz Inácio Lula da Silva, que depois as fundiu no Bolsa-Família. É fato, e está gravado em vídeo. Sobre o PSDB não ter tido projeto para o País, alguém deveria lembrar a Dilma o Plano Real. O jornalismo brasileiro precisa, com urgência, abdicar do simples “aspismo”, sob pena de parecer apenas burro.

Conclusão sobre o debate dos presidenciáveis na Band: as TVs brasileiras não sabem fazer um programa de debates. Este modelo praticado no Brasil, engessado, burocrático, cheio de regras, mais se parece com uma sabatina mal feita. Não existe nenhum debate de ideias, de fato, nem há sequer tempo hábil para desenvolver qualquer discussão. É tudo muito superficial, limpinho, vazio e chato.

M. Cristina da Rocha Azevedo

[email protected]

É preciso dizer mais alguma coisa?

Nota: Se o leitor quer ler um texto mais acadêmico sobre o debate político brasileiro leia o artigo de Heitor de Paola “Eleições no Brasil, uma piada” no “Mídia sem Máscara”.

 www.midiasemmascara.org/artigos/eleicoes-2010/11332-eleicoes-no-brasil-uma-piada.html

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