A EPIDEMIA DA SOLIDÃO

Ethics and Culture Cast - Mary Eberstadt
Mary Eberstadt

Japão

“A última década deixou as coisas claras. Não é só o fato de a “superpopulação” ser uma quimera ideológica que vacilou, mas que precisamente se verificou o seu contrário. Um grande número de pessoas, especialmente no Ocidente, cada vez mais envelhecido e estéril, estão a sofrer precisamente aquilo a que os especialistas destas sociedades aflitas apelidam de a “epidemia da solidão”. Este fenômeno não surpreenderia o Papa Francisco, que numa entrevista recente com la Repubblica em 2013 considerou a “solidão dos velhos” um dos piores “males” no mundo de hoje. Cinquenta anos depois da adoção da pílula, inegavelmente, devido à adoção da pílula, a solidão está em expansão através daqueles países no mundo que prosperam materialmente.

Kodokushi Morte Solitária no Japão | Curiosidades do Japão

No final do ano passado, o New York Times, publicou uma história horrível sobre a queda da natalidade: 4.000 mortes em completa solidão numa semana. Cada ano, no Japão, alguns morrem sem ninguém dar por isso e os seus vizinhos só se dão conta mais tarde através do cheiro.

A primeira vez que aconteceu, ou pelo menos a primeira vez que chamou a atenção nacional, o corpo de um homem de 69 anos que vivia perto da Sra. Ito estava jazido no chão há três anos, sem que ninguém se tivesse dado conta da sua ausência. A sua renda mensal e outros pagamentos eram debitados diretamente da sua conta bancária. Finalmente, quando as suas poupanças se esgotaram no ano 2000 é que as autoridades foram à casa dele e se deram conta do seu esqueleto junto da cozinha, o seu corpo fora completamente devorado por insetos e larvas, isto a uns meros metros dos seus vizinhos do lado.

Fotos: Japão enfrenta o risco de aumento de casos de morte solitária -  01/04/2015 - UOL Notícias
Empresas de limpeza “pós solidão”

O artigo continua dizendo: “A extrema solidão dos idosos japoneses é tão comum que toda uma nova indústria nasceu em torno dela, especializada em limpar apartamentos onde restos em decomposição são encontrados”. De acordo com outro relatório publicado pelo The Independent, as empresas de limpeza estão em grande e algumas empresas de seguros oferecem apólices que protegem o senhorio em caso de um “solitário” falece na sua propriedade.

O Japão é apenas um dos países a enfrentar alterações demográficas pós-pílula.

França

Solidão quase duplica risco de depressão, afirma pesquisa de universidade  francesa | Aller Editora
A solidão causada pelo aumento dos divórcios

“A solidão está a converter-se num fenômeno comum em França” noticiava o Le Figaro há uns anos. O artigo, citando um estudo sobre as “novas solidões /novos isolamentos” da Fondation de France, apontava como principal fator para esta solidão: a “ruptura familiar”, especialmente o divórcio. De forma semelhante, em 2004 um estudo sobre “Socio-Demographic Predictors of Loneliness Across the Adult Life Span in Portugal” concluía que o divórcio aumenta a probabilidade de solidão – ainda que não estudasse a influência de ter ou não crianças. Curiosamente, podemos ler vários estudos sobre solidão sem que seja feita qualquer referência a filhos, uma omissão gritante que diz muito sobre a nossa época.

Suécia

Quem disse que você não pode ser feliz sozinho? Por Fábio Hernandez

(…) Na Suécia, em 2015, um documentário sobre a Teoria do Amor Sueco questionava o domínio da “independência” como ideal no país. Parece-se mais com uma maldição do que com uma bênção quando metade dos suecos vivem em agregados familiares de um. Como um relatório narrava retratava:

Um homem está sozinho no quarto. Jaz morto há três semanas – as pessoas só reparam quando um cheiro fétido surge nos corredores comunitários. À medida que as autoridades suecas investigam o caso descobrem que o homem não tem nem familiares próximos, nem amigos. É muito provável que tenha vivido só durante vários anos, sentado solitariamente em frente da sua televisão ou do seu computador. Ao fim de algum tempo, descobrem que tem uma filha, mas esta acaba por ser impossível de localizar. Aparentemente tinha muito dinheiro guardado no banco. Mas qual a sua utilidade se não tem ninguém com quem partilhá-lo?

Alemanha

E depois temos a Alemanha. Num artigo, no Der Spiegel, intitulado “Alone by the Millions: Isolation Crisis Threatens German Seniors” o German Centre of Gerontology reportava:

Mais de 20 por cento dos Alemães com mais de 70 anos não tem contatos regulares ou apenas o estabelece com uma pessoa. Um em cada quatro recebe menos de uma visita por mês de amigos e conhecidos, e quase um em cada dez já não recebe qualquer tipo de visita. Muitos idosos já não têm quem lhes trate pelo primeiro nome ou que pergunte como têm passado.

Foto de lápides conhecidas como pedras de descanso para mortos solitários em cemitério de Gelsenkirchen

“Pedras de descanso” lembram os mortos solitários em cemitério de Gelsenkirchen

Tamanha pobreza humana abunda numa sociedade inundada pela riqueza material. Isto, também, não foi previsto por aqueles discutiam a favor e contra a Humanae Vitae em 1968. Ainda assim, sem dúvida alguma, o que une estes tristes retratos é a revolução sexual que em meados de 1970 incendiava o Ocidente, levando a um aumento do número de divórcios, diminuindo o número de casamentos e esvaziando os berços. Não é necessário estudar demografia para fazer a ligação a evidência dos sentidos basta. Como uma vítima incisivamente sumarizava no Der Spiegel:

“ Para além dos pássaros quase ninguém visita as mulheres idosas. Erna J. tem cabelo branco e próteses ortopédicas pretas e como a maioria das pessoas da sua idade sofre de extrema solidão. Nasceu pouco depois da Primeira Guerra Mundial e mudou-se para este apartamento há 50 anos. Dez anos depois o seu marido faleceu. Viveu mais do que todos os seus irmãos e amigas. O seu marido não queria ter filhos. “Devia ter insistido” diz a antiga cozinheira, “ e talvez hoje não estivesse tão sozinha”.

Fonte: Excertos de artigo da autora sobre a encíclica ‘Humanae Vitae’ publicado pela Aciprensa.

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