Os economistas Tomas Casas e Guido Cozzi, da Fundação para Criação de Valor, veicularam o Índice de Qualidade das Elites, ranking que engloba 32 países. Para mim, não foi nenhuma surpresa – desagradável – constatar o Brasil posicionado como a sexta pior elite mundial, ficando em 27º lugar, à frente da Turquia, Nigéria, África do Sul, Argentina e Egito e atrás do México, Rússia, Índia e mesmo de Botswana.
O relatório aponta Cingapura, Suíça, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos como as melhores elites mundiais.
Para os autores, elites são grupos pequenos e coordenados, capazes de acumular riquezas, com a capacidade necessária de coordenação para os recursos de uma economia, sejam eles humanos, financeiros ou baseados em conhecimento. São uma “inevitabilidade empírica”, dominando toda a economia política das sociedades.
São essas elites que determinam as estruturas institucionais vigentes e que orientam os incentivos – para o bem ou para o mal -, moldando o comportamento dos indivíduos. Ah, como os incentivos importam! Penso que as ações individuais são resultado do aparato moral da pessoa e, principalmente, das limitações ou oportunidades condicionadas pelas instituições políticas, econômicas e sociais.
Portanto, são as elites que moldam o desenvolvimento humano e econômico das nações, assim como seu destino, sua riqueza e sua ascensão e queda. A fim de sustentarem sua posição, elas acumulam riqueza por meio dos seus modelos de negócios. As elites de alta qualidade são aquelas que usam modelos de negócios de criação de valor, pensando em serem produtivas e em dar mais à sociedade do que tirarem desta. Por sua vez, as elites de baixa qualidade fazem o oposto e operam modelos de negócios baseados em extração de valor, preocupadas em acumular riquezas e em aumentar seus privilégios às custas do empobrecimento da sociedade.
Cabe lembrar que Acemoglu e Robinson, no excelente livro Por Que as Nações Fracassam (2012), afirmam que as instituições políticas e sociais são a causa fundamental do desenvolvimento e do atraso das nações. Países são ricos porque possuem instituições certas, ou seja, inclusivas, que permitem que as pessoas explorem ao máximo seu potencial através da maior liberdade, promovendo o desenvolvimento econômico via processo de destruição criativa no mercado.
Por outro lado, países são pobres tendo em vista que possuem instituições erradas, isto é, extrativistas, aquelas que cerceiam as liberdades e impedem a destruição criativa, já que as elites políticas e sociais extraem as rendas geradas e conduzem às nações ao subdesenvolvimento.
Bem, para quem estuda seriamente e leu Adam Smith, Douglass North, Acemoglu e Robinson, por exemplo, fica evidente que o Brasil sempre foi e é o paraíso do “rent-seeking”. Verdadeiramente, quase sempre uma explosiva combinação de populismo barato e comportamento “rent-seeking” das elites.
Esse comportamento rentista das elites se expressa na busca incessante de conquistar privilégios e benefícios, não pela lógica de mercado e pelas naturais consequências dos processos competitivos, mas pelo poder e pela influência política. Por bandas tupiniquins, as elites quase sempre procuraram capturar as instituições regulatórias e políticas para angariarem privilégios pessoais e para seus grupos de interesse.
Na economia do “rent-seeking” verde-amarelo, as elites procuram os favores estatais, ficando com o povo o ônus de pagarem mais caro por produtos e serviços de pior qualidade. Desse modo, grande parte do lucro obtido provém do compadrio, ao invés de ser resultado dos processos competitivos nos mercados. As perguntas que não querem calar são: por que vivemos nesse reino do comportamento rentista? Há uma saída possível deste modus operandi?
Parece-me que entre os nossos grandes e graves problemas estão a falta de uma educação efetiva, honesta e de boa qualidade e os nossos arcaicos sistemas político e eleitoral, que faz com que o povaréu tenha que eleger ou gente de “direita”, preocupada em aumentar e/ou em garantir seus privilégios, ou gente de “esquerda”, normalmente contrária ao desenvolvimento econômico, e que ainda acredita que o progresso factual representa retornar ao paraíso tribal das cavernas.
Acho que a tradicional conversinha de direitos humanos e da política identitária intolerante, aliada à raivosa mentalidade e narrativa dos “opressores versus oprimidos”, alimentam sobremaneira a escassez de foco na essencialidade das bases do crescimento econômico, como, por exemplo, as questões referentes ao aumento de produtividade nacional, indutora de melhores salários, a geração de maior igualdade de oportunidades, a criação de um ambiente de negócios mais favorável aos empreendimentos, e por aí afora.
Pois é; os filósofos franceses, aqueles que nunca saíram da “conversa” com seus amigos dos livros e que nunca viveram a realidade empresarial de verdade estimulam pesadamente o pensamento mágico, especialmente nos mais jovens e inexperientes, e em parte da elite intelectual, que crê que a felicidade (normalmente aquela do paraíso natural nostálgico) deve ser imediata e facilmente agarrada. Além disso, impulsionam em mentes e corações infantis, o desejo quimérico de que o bolo econômico cresce lepidamente, sem o fermento do trabalho duro, da poupança e dos investimentos de indivíduos trabalhadores, que abdicam dos prazeres imediatos, e das empresas e organizações criadoras de riqueza.
Não confio em uma saída exitosa para o país com a persistente continuidade de nossos capitalistas do compadrio, “de direita”, e com o desgastado discurso dos oprimidos da nossa “esquerda bondosa”. São todos eles contra a genuína economia de mercado, que prática e verdadeiramente nunca deu o ar da graça por aqui.
Em nosso reino do “rent-seeking”, falta mesmo o livre mercado enfatizado pelo maior de todos e de todos os tempos, Sir Adam Smith, aquele do real sistema competitivo e do “mágico” processo da destruição criativa. Destruição criativa esta que simultaneamente cria trazendo inovações e melhorias para a vida social e econômica – destruindo o antigo e ultrapassado – e que deve reverberar para todos os cidadãos no tecido econômico e social em questão.
Será que um dia verei isso acontecer?
Alex Pipkin – Doutor em Administração – Marketing pelo PPGA/UFRGS. Mestre em Administração – Marketing pelo PPGA/UFRGS Pós-graduado em Comércio Internacional pela FGV/RJ; em Marketing pela ESPM/SP; e em Gestão Empresarial pela PUC/RS. Bacharel em Comércio Exterior e Adm. de Empresas pela Unisinos/RS. Professor em nível de Graduação e Pós-Graduação em diversas universidades. Foi Gerente de Supply Chain da Dana para América do Sul. Foi Diretor de Supply Chain do Grupo Vipal. Conselheiro do Concex, Conselho de Comércio Exterior da FIERGS. Foi Vice-Presidente da FEDERASUL/RS. É sócio da AP Consultores Associados e atua como consultor de empresas. Autor de livros e artigos na área de gestão e negócios.