Ao não estimular erros e adaptação a eles, empresas demonstram falta de flexibilidade e da chamada resiliência organizacional, aponta pesquisa da ISE Business School
O termo resiliência é comumente utilizado para definir a capacidade que as pessoas têm de se adaptar e resistir a momentos difíceis ou mudanças profundas. Especialistas dizem que empreendedores precisam ter muita resiliência, por exemplo, para se adaptar e fazer mudanças rápidas em seu negócio. Com a pandemia, os funcionários também tiveram de se ajustar às mudanças na forma e no local de trabalho. Mas e do ponto de vista das empresas? Pouco se fala em resiliência organizacional, que é a capacidade de a empresa conseguir se adaptar em momentos de crise.
Para entender esse cenário, o ISE Business School, escola de negócios voltada para a formação de executivos, fez uma pesquisa com 180 líderes de mais de 150 empresas com o objetivo de avaliar a percepção deles sobre a capacidade de adaptação de suas organizações durante momentos de crise.
Entender como estão enfrentando os desafios impostos pela transformação digital também fez parte do estudo. Os resultados mostram que 44% entendem que a cultura de suas empresas não incentiva o erro, o que dificulta a criação de um ambiente disruptivo e inovador. O dado mostra falta de flexibilidade, segundo o professor de gestão de pessoas e ética nos negócios do ISE e coordenador do estudo, Cesar Bullara.
A flexibilidade faz parte dos principais pilares de uma empresa que trabalha a resiliência organizacional, segundo Bullara. Para o especialista, ao mesmo tempo em que a empresa precisa ter consistência, ou seja, conseguir assegurar sua posição no mercado em tempos de crise, ela também precisa ser flexível para promover mudanças e alcançar soluções de forma rápida. “Resiliência não é somente resistir. É preciso defender o seu espaço e ao mesmo tempo entender como inovar. Consistência não quer dizer imobilidade”, diz Bullara.
Segundo o especialista, a resiliência organizacional requer mudanças profundas na organização, como a virada de chave do foco na hierarquia para o foco nas pessoas. “Cada vez mais a competitividade do mundo corporativo exige que se confie no profissional. Não basta ter só as pessoas adequadas, tem que deixar elas fazerem, dar liberdade aos funcionários. E isso tem a ver com uma mudança de fato de atitudes e comportamentos. Tem gente que sente arrepios ao ouvir isso. Não é só mudar processo, tem que mudar o mindset”, acredita o coordenador.
Outro ponto de destaque é a importância de a empresa olhar para o futuro. “Quanto mais essa empresa antever o futuro, mais resiliente ela vai conseguir ser no eixo de consistência e flexibilidade. E lembrando que uma empresa que olha para o futuro tem tolerância ao erro”, completa Bullara. No estudo, somente metade dos entrevistados afirmou que a liderança da empresa pensa e age estrategicamente para que a organização esteja sempre um passo à frente
Metodologia ágil
A metodologia ágil se tornou a menina dos olhos do ambiente corporativo em tempos de transformação digital. A metodologia visa conseguir resultados melhores em menos tempo utilizando times multidisciplinares, ciclos curtos de desenvolvimento, experimentação de projetos e uso de softwares que ajudam a visualizar todo o processo. Mas qual é a relação desse novo modo de trabalho com resiliência organizacional?
“A organização quer ser ‘agile’, mas parece que de fato as empresas não sabem como conciliar o curto com o longo prazo. Pela pesquisa, as empresas não têm muita tolerância com os erros, e o ‘agile’ por definição consiste em ter tolerância com os erros”, diz o professor do ISE.
Ele completa afirmando que existem incoerências dentro das organizações e que, no fundo, isso tem a ver com o mindset. “A pergunta também é se a empresa quer colocar na mão dos colaboradores decisões importantes ou quer remeter tudo para cima? Não confiando nas pessoas, você nunca vai ser agile. Ser resiliente significa sim empoderar as pessoas e mudar o mindset.”