Por Patrícia Padilha Coleman
Há muitos anos atrás, quando o meu filho mais velho estava sendo alfabetizado, fui a uma reunião de pais em que a professora perguntou aos 40 pais presentes: “qual é o seu principal objetivo na criação do seu filho?”. Confesso que a pergunta me pegou desprevenida. Eu fui mãe cedo e nunca tinha parado para pensar objetivamente sobre o assunto. A minha resposta visceral foi a felicidade. Pensei, quero ver meu filho feliz e o resto será consequência. Porém, eu vivo na Califórnia, numa área afluente, e a resposta da maioria dos outros pais foi bem diferente da minha. O objetivo da grande maioria era a independência dos filhos.
Sim, eles estavam criando os filhos para que não precisassem mais deles! O meu coração ficou apertado… Uma mãe brasileira quer os filhos juntos, pensa em ficar velhinha e ter todos em sua casa no almoço de domingo, em tomar conta dos netos e muito mais… A minha reação inicial foi negociar… Perguntei à professora o que ela achava da interdependência. Expliquei que em muitas culturas, as mães guardam o cordão umbilical dos bebês. A professora ficou chocada; pois nos EUA, as mães mandam fazer uma copia de gesso do primeiro sapatinho com que o filho andou sozinho. Cordão umbilical e primeiros passos, esse foi o embate com o qual me deparei.
Hoje o Kyle tem 20 anos e tenho quatro outros filhos e minha visão de independência para filhos mudou radicalmente. Acredito que realmente precisamos cria-los emocionalmente seguros para se tornarem independentes.
Uso com meus recém nascidos a técnica abordada pelo livro “Bringing Up Bébe” de Pamela Drukerman (http://www.pameladruckerman.com), quando “reclamam”, antes de tirá -los do berço, carrinho, etc… os observo por alguns minutos para “lê-los” e ver se realmente precisam de mim. Lhes dou alguns minutos para tentarem resolver seus próprios problemas. Acredito que desde o início, o papel dos pais é estimular o desenvolvimento dos filhos rumo independência.
Acredito que os filhos nos mostram quando estão prontos à dar passos sozinhos, literalmente! Cada um de meus 5 filhos andou em idades diferentes de 9 meses à 13 meses. Quando estavam prontos davam os primeiros passos, incluindo a minha filha Melissa, que jamais engatinhou! Por isso, estar atento, apoiar, incentivar e ter aquele “gelinho” e band-aid é o papel dos pais.
Esta filosofia se aplica à ensinar a leitura, a andar de bicicleta ou à dirigir um carro. O meu filho menor, Noah de 4 anos, me surpreende constantemente. Semana passada, me entregou uma muda de roupa dobrada e me disse que precisava pô-la numa “zip-lock” pois estava sem roupa “extra” em sua escola. Eu o parabenizei e disse que estava muito orgulhosa da responsabilidade dele. A responsabilidade anda lado a lado com a independência e deve ser enfatizada em casa e na escola. A felicidade dos meus filhos continua sendo o meu objetivo primordial, mas sei que esta será o resultado da conquista da independência individual de cada um deles.
# Patrícia tem um blog, é brasileira e vive com os 5 filhos(todos nascidos nos EUA) e o marido em Palos Verdes,Califórnia. Nós convidamos Patrícia para escrever aqui sobre as “dúvidas, dores e delícias” de criar seus brasileirinhos ,que tem como língua de herança o Português, em uma outra cultura.
Por Patrícia Padilha Coleman