Joel Pinheiro
06/10/2011
Há algo profundamente errado com o sistema de ensino em geral, e com a academia em particular; suspeito que grande parte do que se produz, do resultado da “pesquisa” acadêmica, é puro gasto burocrático de tempo e espaço que não contribui em nada para o conhecimento de ninguém; nem do próprio estudante, que deveria ser o maior beneficiado.
Essa suspeita é confirmada pela existência de toda uma indústria de fabricar papers, trabalhos e dissertações. Neste artigo para o Chronicle, um escritor de teses anônimo (identificado como Ed Dante) nos deixa vislumbrar o alcance desse mercado negro. A demanda da empresa para a qual ele trabalha (que atende de alunos do colegial a pós-graduandos) abrange todas as disciplinas: enfermagem, negócios, filosofia, religião comparada, ciências naturais, economia; mas a campeã de pedidos é, curiosamente, a educação. Graças a ele, centenas de semi-analfabetos se formam e adquirem títulos acadêmicos sem ter que passar pela chatice do aprendizado. Que tantos alunos estejam dispostos a usar o serviço é sem dúvida preocupante, e levanta diversas considerações éticas (até alunos de seminário estão na lista!); mas o fato mais revelador é que nenhum professor ou diretor percebe nada. É provável que muitos deles próprios tenham subido na instituição graças a algum Ed Dante.
De fato, ao contrário do plágio, que pode ser facilmente descoberto, no caso da fraude não há o que perceber. Os artigos prolixos e vazios de Ed Dante (que se gaba de usar 40 palavras onde outros usariam 4) são exatamente aquilo que a instituição espera. E são produzidos por alguém sem conhecimento ou interesse algum pelo assunto; alguém que antes nem sonhava em pesquisar, digamos, Platão, ou a relação entre liberalização do comércio e práticas corporativas anti-éticas, e que consegue em dois dias ininterruptos de Google e Wikipedia escrever um trabalho de setenta páginas plenamente satisfatório. Em outras palavras, sucesso acadêmico não tem relação necessária alguma com aquisição de conhecimento e formação intelectual. O que os professores esperam não é uma mente capaz e interessada, e sim um repetidor de frases feitas e acumulador de notas de rodapé.
Ao fim de um longo e laborioso processo de escrever capítulos para uma dissertação, não há recompensa maior que receber por email a gratidão do aluno:
“thanx so much for uhelp ican going to graduate to now”.
Fonte: http://www.dicta.com.br