ANTIGO EGITO, LEI NATURAL E RELATIVISMO

Valter de Oliveira

25/10/2009

Um dos problemas mais graves que assolam o mundo contemporâneo é o relativismo, ou seja, a ideologia que afirma que o bem e o mal são frutos da criação humana, são subjetivos, e a norma moral é mero convencionalismo. Não há valores absolutos. Tudo muda com a evolução histórica. Não há nada que seja perene no homem.

Fruto desse erro sobre o que seja a verdadeira ética encontramos em sala de aula quando muitos alunos dizem que cada um tem sua verdade. É o que eles aprenderam. Na escola, com a mídia, no dia a dia.

Se comentamos com eles que existe uma lei não escrita que devemos seguir, “uma lei que o homem conhece pela luz natural de sua razão, enquanto implícita na natureza das coisas (Jolivet, p.359), eles ficam surpresos. Mais ainda quando dizemos que os princípios dessa lei são imutáveis.

Na verdade não se poderia falar de bem e mal, de virtude e vício, se não houvesse um critério de avaliação e uma instância, que é a consciência humana, capaz de intuir o que vale, de discernir o certo do errado, de indicar o caminho que devemos seguir.

Muitas vezes procurei mostrar que, em épocas e culturas bem diferentes da nossa, outros povos viam suas ações como nós geralmente as vemos. Qualquer um de nós poderia, por exemplo, sentir-se identificado com o egípcio que faz sua confissão conforme o Livro dos Mortos.

Curiosamente, na última semana, ao ler alguns artigos em um site espanhol, deparei-me com o de uma professora que usou o texto egípcio para criticar o relativismo. O mundo é mesmo pequeno. Ela na Europa, eu no Brasil, defendemos a lei natural citando o mesmo exemplo.

Veja o que escreveu a mestra espanhola..

UMA LEI SUPRACULTURAL

Um texto do Egito, escrito há mais ou menos 3.300 anos, mostra a lucidez com que se expressava naqueles tempos o conhecimento do bem e do mal

Maria Victoria Jiménez Conde

Em meu trabalho docente encontrei, há pouco, um fragmento do Livro Egípcio dos Mortos, do Novo Império – século XIII antes de Cristo – no qual podemos ler:

“Trago em meu coração a verdade e a justiça, pois arranquei dele todo o mal.

Não fiz sofrer aos homens
Não tive contato com os maus.
Não cometi crimes

Não abusei de quem trabalhou para mim.
Não maltratei meus servidores.
Não blasfemei.

A ninguém privei de alimento.

Não fiz chorar.

Nâo matei nem mandei matar.

Não tratei de aumentar minhas propriedades por meios ilícitos, nem de apropriar-me dos campos de outros.

Não falseei a balança.

Não menti.

Não difamei.

Não escutei atrás das portas.

Jamais cometi adultério.

Sempre fui puro mesmo na solidão.

Não cometi com outros homens pecados contra a natureza.

Jamais faltei com o respeito aos deuses.”

Não é surpreendente e assombroso comprovar, neste texto do Egito, a lucidez com que se expressa o conhecimento do bem e do mal? Sem referir-se a nenhuma lei escrita, o coração dos egípcios sabia distingui-los claramente em suas ações. Seguiam o que, passados os séculos, passamos a chamar de Lei Natural, participação da Lei Eterna impressa no coração de cada homem, de tal modo que, sem árduos raciocínios, sabe a partir de seu interior quanto age bem ou mal. Esta Lei, não surge como uma invenção de uma determinada cultura humana mas, como um descobrimento que cada Pessoa realiza dentro de si; ainda que procure, às vezes, ocultá-lo, não pode deixar de reconhecê-lo quando reflete serenamente. Sua verdade é evidente e, portanto, não necessita demonstração. Por isso dizia Aristóteles que, se alguém dissesse que se pode matar a própria mãe, “não merece receber argumentos, mas açoites”.

http://arvo.net/nuestros-temas-de-hoy/una-ley-supracultural/gmx-niv902-con9147.htm

Notas do site: No livro de Isaac/Alba, História Universal, Oriente e Grécia, encontramos outros exemplos:

Não menti ante o Tribunal.

Não atormentei a viúva.

Não conheço a má fé.

Não roubei as faixas nem as provisões dos mortos.

Não tirei o leite da boca das criancinhas.

Não cortei um canal.

Conforme as crenças egípcias, “Antes de entrar no “reino do ocidente”, onde reinava Osíris, a alma tinha que realizar uma perigosa viagem” (…) Existia uma espécie de guia para essa viagem ao além. Era o Livro dos Mortos do qual se punha um exemplar sobre a múmia. O livro continha as fórmulas que o morto devia pronunciar para se justificar.”

(op. cit. Editora Mestre Jou. São Paulo, 1964. p. 58-59).

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