Robert Lopez*
Crianças educadas em lares LGBT: o estudo mais amplo já realizado
Dois novos estudos publicados no jornal Social Science Research desafiam a tese de que não há diferença no desempenho entre crianças nascidas em lares cujos pais são LGBT e em lares heterossexuais estáveis e intactos.
O primeiro estudo elaborado pela especialista em estudos de família Loren Marks da Universidade Estadual da Luisiana faz uma revisão de 59 estudos que foram referenciados em 2005 pela American Psychological Association. Segundo a instituição, os 59 estudos indicavam que não havia diferença no desenvolvimento de crianças educadas em famílias tradicionais ou LGBT. O artigo de Loren Marks, por outro lado, aponta que nenhum dos 59 estudos compara uma amostra ampla, aleatória e representativa de casais gays ou de lésbicas com uma amostra de igual tipo de casais heterossexuais.
O segundo estudo é do sociólogo Mark Regnerus na Universidade do Texas em Austin e apresenta diferenças significativas do desenvolvimento das crianças de acordo com o tipo de família onde são criadas. Regnerus lidera uma equipe de pesquisadores do NFSS (Estudo de Novas Estruturas Familiares) da Universidade do Texas e conseguiram entrevistar em 2011 uma amostra de 2988 adultos.
A pesquisa é original em três aspectos:
– Compara a renda familiar de casais gays, de casais lésbicos e casais hétero. A maior parte dos estudos anteriores comparava indistintamente gays ou lésbicas com famílias monoparentais ou divorciadas e não levavam em conta os diferentes extratos socioeconômicos.
– A amostra considera apenas jovens adultos (18 a 39 anos) que falaram sobre suas infâncias. Os outros estudos se concentraram nas respostas que os casais davam sobre como suas famílias homo ou hétero educavam seus filhos. Uma diferença notável.
– O novo estudo se apoia numa mostra representativa da população dos EUA, em cima dos dados obtidos no censo de 2010. Os estudos anteriores se apoiaram em amostras que não podem ser aplicadas ao país como um todo.
Esclarecendo
Antes de falar dos resultados, dois pontos importantes precisam ser esclarecidos. A pesquisa não pretende analisar a relação sobre o tipo de educação que um casal dá e o desempenho das crianças, mas uma comparação entre os resultados obtidos com casais gays ou lésbicos versus casais hétero. Por exemplo, quando o estudo conclui que as crianças que tiveram um pai gay são muito mais propensas a sofrer de depressão quando adultas do que as crianças que vêm de lares hétero, este não afirma que o pai gay foi a causa da depressão do seu filho ou da sua filha, mas simplesmente que essas crianças têm em média mais casos de depressão por razões não identificadas pelo estudo. O estudo controlou variáveis como idade, sexo, raça, nível de escolaridade da mãe, renda familiar, o tipo de legislação gay no estado de origem do entrevistado e a experiência de ter sofrido bulling quando jovem. Esses controles foram usados para evitar extrapolações nas conclusões.
Em segundo lugar, o estudo descobriu que as crianças que foram criadas por um casal gay ou de lésbicas há pelo menos 15 anos atrás, eram geralmente concebidas dentro de um casamento heterossexual, que, em seguida, passou por divórcio ou separação, deixando a criança com uma mãe ou pai solteiro. Esses pais ou mães tiveram pelo menos um relacionamento romântico com alguém do mesmo sexo, às vezes fora de casa da criança, às vezes dentro. Para ser mais específico, entre os entrevistados que disseram que sua mãe teve um relacionamento com alguém do mesmo sexo, uma minoria, 23%, disseram ter passado pelo menos três anos vivendo na mesma casa com a sua mãe e sua parceira. Apenas dois dos 15 mil pré-selecionados passaram um período de 18 anos com as mesmas duas mães. Entre aqueles que disseram que seu pai havia tido um relacionamento homossexual, 1,1% relataram passar pelo menos três anos, juntamente com os mesmos dois homens.
Isto sugere que as relações do mesmo sexo dos pais eram muitas vezes de curta duração, um achado consistente com uma pesquisa realizada sobre os níveis elevados de instabilidade entre os parceiros de mesmo sexo. Apesar de usar uma amostra grande, representativa da população dos EUA, e apesar de usar táticas de triagem visando aumentar o número de entrevistados, um segmento muito pequeno relatou ter sido criado pelos mesmos dois pais ou duas mães por um período mínimo de três anos. Estudos de diferentes nações mostram também que, em média, relacionamentos de casais do mesmo sexo são mais curtos do que os dos casais hétero.
Resultados da pesquisa
(1) (confira em: http://www.prc.utexas.edu/nfss/publications.html)
– 48% dos filhos de gays e 43% dos filhos de lésbicas se declaram negros ou hispânicos, um número muito maior do que anteriormente encontrado nos estudos baseados em amostras de conveniência. Crianças criadas por lésbicas tiveram quase quatro vezes mais probabilidade de usar atualmente a assistência pública do que os filhos de héteros. Como jovens adultos, os filhos de homoafetivos tinham também 3,5 vezes mais probabilidade de estar desempregados do que os filhos de héteros.
– Os filhos de gays mostraram maior propensão para se envolver com a criminalidade. Na média, tem mais registro de prisões e condenações do que os filhos de hétero. Os filhos de lésbicas registraram o segundo maior nível de envolvimento em crimes e prisões.
– Os filhos de lésbicas foram molestados sexualmente por um dos pais onze vezes mais e os filhos de gays três vezes mais do que filhos de héteros. Quando a pergunta era sobre ser forçados a ter intercurso sexual contra a vontade, os filhos de lésbicas disseram quatro vezes mais “sim” do que os filhos de héteros. Os filhos de gays disseram “sim” três vezes mais do que os filhos de héteros.
– Quanto à presença de doenças sexualmente transmissíveis (DST), os filhos de gays registraram o problema três vezes mais, os filhos de lésbicas 2,5 vezes mais do que os filhos de hétero (os filhos criados com padrasto tiveram 2 vezes mais do que o caso de filhos criados com pai e mãe biológicos).
– Sobre o uso de maconha, os filhos de pais divorciados tiveram o pior registro: 1,5 vezes mais do que os filhos de pais que permaneceram casados.
– Quanto à percepção emocional de se sentirem seguros na infância, os filhos de lésbicas tiveram os menores índices, seguidos dos filhos de gays. Na questão de acudir a um terapeuta devido à ansiedade, depressão, etc. os filhos adotados tiveram o pior índice, seguido dos filhos de lésbicas.
– No diagnóstico de depressão como adultos, os filhos de homoafetivos registram índices muito maiores do que os filhos de héteros. Os filhos de gays tiveram 2 vezes mais pensamentos de suicídio do que os filhos de lésbicas e 5 vezes mais do que os filhos de héteros.
– Quanto à qualidade do relacionamento que possuem atualmente com outros adultos, as respostas apontam que os filhos de lésbicas tiveram o pior desempenho, seguidos dos filhos adotados, filhos com padrasto e filhos de gays.
– Quanto à infidelidade, filhos de lésbicas tiveram 3 vezes mais casos enquanto casados (ou coabitando) que os filhos de héteros. Os filhos de gays tiveram 2 vezes mais casos.
– Na questão da orientação sexual, filhos de lésbicas são os que registram maior inclinação para relacionamento com pessoas do mesmo sexo, bissexualidade e assexualidade. Filhas de lésbicas tiveram em média uma mulher e quatro homens como parceiros ao longo da vida. Filhas de héteros tiveram 0,22 mulheres e 2,79 homens parceiros no mesmo período. Filhas de gays são as que mais registraram assexualidade. (2)
(2) Mais dados também em: www.familystructurestudies.com.
Conclusões
Estatísticamente, o estudo mostra evidências de que há diferenças profundas em ser criado por casais héteros ou ser criado por casais LG. Mais ainda: ser criado pelo pai e pela mãe biológicos, num lar sem separação ou divórcio, parece ser o que mais traz vantagens para uma criança.
(continua).
* Robert Lopez é professor assistente de inglês na California State University-Northridge
Fontes:
(1) (confira em: http://www.prc.utexas.edu/nfss/publications.html)
(2) Mais dados também em: www.familystructurestudies.com.
http://correiochegou.blogspot.com.br/2014/12/criancas-educadas-em-lares-lgbt-o.html
Nota: A continuação deste estudo com o testemunho de Roberto Oscar Lopez a Mark Regnerus será publicado em outro artigo do Olivereduc.