VIRTUDES DA CONVIVÊNCIA

Ariovaldo Esteves Roggeiro

1 – As virtudes possuem uma dimensão social. 2 – O porte exterior e as virtudes sociais. 3 – A convivência familiar é escola de sociabilidade. 4 – As refeições familiares são momentos de socialização.

1 – As virtudes possuem uma dimensão social

          As virtudes têm caráter pessoal, e muitas delas possuem também marcante dimensão social, pois os seres humanos não são “peças isoladas”, mas coexistem com outros, como elos de uma mesma corrente. Entre essas virtudes estão a sociabilidade, a cordialidade, a amabilidade, a preocupação e pelos demais, o espírito do serviço, a atitude de escuta e de compreensão…. Parte da formação humana está no desenvolvimento das virtudes sociais que, além de enriquecer os que as possuem, enriquecem aos demais, sendo fácil constatar a presença ou ausência delas no relacionamento com os demais.

          Ao facilitar que as relações entre as pessoas sejam mais cordiais e justas, as virtudes da convivência garantem o bom ambiente familiar, profissional e social, porque torna a vida mais de acordo com a dignidade humana. Talvez não se possa dizer que a amabilidade – qualidade da pessoa agradável no relacionamento com os outros, e que sabe conversar – seja a virtude mais importante, mas gera sentimentos de empatia, cordialidade e compreensão, tão necessários para a boa convivência com todos. Estar diante de uma pessoa que possui as virtudes da convivência é ter diante de si alguém que sabe ouvir, compreender e expressar-se com respeito; que sabe o momento de intervir em uma conversa, sem demonstrar pressa.

          A urbanidade é essencial para a convivência em sociedade. A cortesia, a amabilidade e a urbanidade são irmãs menores de outras grandes virtudes, como a caridade, a solidariedade, a justiça… sem essas pequenas virtudes a convivência se tornaria desagradável, pois a pessoa grosseira, descortês, demonstra não ter amor aos demais. Jesus Cristo ao ser convidado para uma refeição na casa de Simão, o fariseu, notou que este lhe faltou com muitos detalhes de cortesia (Lc7, 36-ss).

2 – O porte exterior e as virtudes sociais

          O cuidado no porte exterior entra no rol das virtudes da convivência, pois é sinal de delicadeza para com os demais. O modo de se vestir, de mover-se, sorrir e olhar, enfim, todo o atuar pessoal, revelam não apenas aspectos externos e isolados, mas comunicam a própria identidade e interioridade pessoal.

          Quem que não se apresenta bem-vestido na vida social não comunica apenas desmazelo, mas demonstra pouca estima por si e pelos outros: ir de agasalho esportivo a um casamento é dar pouca importância aos noivos! Vestir-se com decoro e de modo discreto exerce um atrativo externo grato. A discrição e o pudor no modo de se vestir revelam uma vida interior que não se deixa levar pela frivolidade, vaidade ou pelo desejo de chamar a atenção.

          O que impede a vulgaridade no vestir-se, mais do que a moda ou roupas caras, é o estilo pessoal, a sobriedade, o equilíbrio de uma personalidade que tem a capacidade de se apresentar conforme a ocasião. A elegância conjuga roupa adequada, limpeza e harmonia das cores. O estilo se cultiva desde o lar, quando os filhos observam que seus pais em casa andam com elegância e discrição: nunca com poucas roupas ou escrachados, mas de modo casual e combinando as cores.

3 – A convivência familiar é escola de sociabilidade

          A família é o lugar onde melhor se desenvolvem as virtudes da convivência, em qualquer idade: não se apresentar malvestido, ceder o melhor lugar aos mais velhos, desenvolver o espírito de serviço ao colaborar nas tarefas para manter o lar limpo e aconchegante. As tertúlias ou bate-papos descontraídos, sempre com a tv desligada e os celulares à distância, são momentos que preparam os filhos para a convivência social pelo simples fato de que estes se sentem ouvidos: narram suas pequenas aventuras no colégio e as brincadeiras com os amigos, aprendem a falar sem levantar a voz ou gritar e exercitam-se na arte de escutar e não interromper a conversa dos outros, nem brigam para impor um ponto de vista. Os pais falam acerca do seu dia de trabalho, comentam sobre temas de atualidade, dão critério sobre determinado comportamento, contam aspectos das tradições familiares, religiosas, patrióticas; abordam temas culturais. A família que faz passeios em conjunto, seja ao campo, uma vez por mês, para desfrutar da natureza, ou em parques e visitas artísticas nos finais de semana, abre a mente das crianças para novas realidades e as introduz na fascinante arte de relatar suas experiências.

4 – As refeições familiares são momentos de socialização

          As refeições familiares são incubadoras de sociabilidade e bons modos, sendo que algumas pesquisas revelaram que as crianças julgam que “fazer as refeições em família” é a atividade mais importante para elas. E isso tem sua lógica, pois estar com as pessoas amadas, falar e ser compreendidas são modos de socializar, de aprender a dar-se aos outros, de melhorar as relações entre os membros da família, de ter em conta os demais comensais e ajudá-los a se servir, de esforçar-se para não comer fora de hora.

          É frequente nas grandes cidades que tanto o pai como a mãe trabalhem fora do lar para manter a economia doméstica, e que os horários e as distâncias enfrentadas diariamente dificultam as reuniões familiares. Porém, deve haver esforço de todos – também dos filhos – para estarem juntos ao menos em uma das refeições diárias, a fim de compartilharem momentos em comum.

          Sem serem chatos ou inconvenientes, os pais aproveitam as refeições familiares para observar e corrigir muitos detalhes de falta de educação. A sós com cada filho, para não humilhá-lo diante de todos, podem alertar para diversos aspectos: estar pendente dos demais na mesa ao oferecer os alimentos antes de se servir, dizer por favor ao pedir algum prato, ceder o melhor lugar aos mais velhos, não cruzar as pernas ao comer, ajudar a pôr e tirar a mesa, segurar com elegância os talheres, cortar a carne em pedaços pequenos, não falar com a boca cheia, comer tudo o que foi colocado no prato, não debruçar-se sobre o prato de sopa, limpar os lábios antes de beber e não fazer ruído… São indicações que oportuna e pacientemente devem ser ensinadas, e que depois de assumidas revelam correção, cortesia, higiene e procedência de uma lar bem-educado. Abençoar os alimentos é o costume de invocar a benção de Deus sobre a família para agradecer o dom do trabalho que proporcionou os alimentos…

          Quem desenvolveu as virtudes da convivência revela amadurecimento e respeito por si e pelos demais; mostra-se senhor dos próprios atos ao se conduzir com naturalidade, prudência e medida em qualquer situação, e segue o caminho de cada dia com alegria, bom humor e passos seguros.

Texto adaptado por Ari Esteves com base no artigo “As boas maneiras”, de J. M. Martins, em https://opusdei.org/pt-br/article/as-boas-maneiras/. Imagem de Fauxels.

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