O historiador Joseph-François Michaud conta-nos os últimos momentos do grande rei francês que veio a falecer no dia 25 de agosto de 1270, em Túnis, no Egito.
O rei tinha sido atingido pela peste e percebeu que estava para morrer. Pediu para colocar diante de si uma cruz e “estendendo as mãos, implorava sem cessar, em silêncio, Àquele que tinha sofrido por todos os homens”.
“Todo o exército estava penalizado; os soldados choravam; pedia-se ao céu a vida de um tão bom príncipe. No meio da desolação geral, Luís pensava no cumprimento das leis divinas e nos destinos da França. Felipe, que devia sucede-lo ao trono, estava em sua tenda; ele mandou-o aproximar-se de seu leito e com vós débil, deu-lhe conselhos sobre a maneira de governar o reino de seus antepassados. As instruções que lhe deu encerravam as mais belas máximas da religião e da realeza. O que as tornou para sempre dignas do respeito da posteridade, foi que elas tinham a autoridade de seu exemplo e recordavam todas as virtudes de sua vida”.
(….) “Meus caros filhos, dizia ele, sede caridosos e misericordiosos para com os pobres e para com todos os que sofrem”. “Se subirdes ao trono, dizia ele, mostrai-vos digno, dizia ele, mostrai-vos digno, por vosso proceder, de receber a santa unção com que são sagrados os reis da França… Quando fordes rei, mostrai-vos justo em todas as coisas e nada possa jamais vos afastar do caminho da verdade e da retidão… Se a viúva ou os órfãos lutarem diante de vós, com um homem poderoso, declarai-vos pelo fraco contra o forte, até que a verdade seja conhecida… Nos negócios em que vós mesmo estiverdes interessado, sustentai, primeiro a causa de outrem, pois se não agirdes desse modo, vossos conselheiros não hesitariam em falar contra vós, o que não deveis querer… Meu caro filho, se eu vos recomendo principalmente evitar a guerra com todo povo cristão, se estiverdes reduzidos à necessidade de fazê-la, cuidai, pelo menos, que o povo pobre, que não tem culpa seja excluído de qualquer prejuízo… Reuni todos os esforços para apaziguar as dissensões, se surgissem no reino, pois nada agrada mais a Deus do que o espetáculo da concórdia e da paz… Não vos descuideis de nada, para que haja nas províncias bons magistrados e bons prepostos… Dai de boa vontade o poder a homens que dele saibam bem usar e castigai os que deles abusarem; pois se deveis odiar o mal nos outros, por mais forte razão naqueles que recebem de vós a autoridade. Sede equitativo na cobrança do dinheiro público, sensato e moderado em seu emprego; guardai-vos das loucas despesas, que levam a taxas injustas. Corrigi com prudência o que é defeituoso nas leis do reino. Mantende com lealdade os direitos e as regalias que os vossos predecessores vos deixaram; quanto mais vossos súditos forem felizes tanto mais vós sereis grande; quanto mais vosso governo for irreprovável, tanto mais vossos inimigos temerão ataca-lo”.
(…) Eu te dou, disse-lhe ele, todas as bênçãos que um pai pode dar ao seu querido filho. Eu te rogo que me ajudes com missas e orações, e que eu tenha parte em todas as tuas boas obras. Rogo a Nosso Senhor Jesus Cristo que por sua grande misericórdia te guarde de todos os males e não permita que faças coisa alguma contra sua vontade; e, depois desta vida mortal, nós possamos vê-lo, amá-lo e louvá-lo juntos, nos séculos dos séculos”
Fonte: Michaud, Joseph-François. História das Cruzadas, vol. 5, São Paulo, Editora das Américas, 1956, p. 254-255.
Nota: os destaques em negrito são do site olivereduc.com