CHE E MARADONA

Percival Puggina

14/10/2007

O mito Che Guevara resulta da convergência de fatores facilmente identificáveis:

a) a hedionda execução sumária a que foi submetido (tipo de crime, aliás, que ele próprio cometeu várias vezes); b) seu inegável carisma; c) a poderosa máquina de propaganda com que os comunistas dissimulam ou envernizam todas as malfeitorias inerentes à causa; e d) a severa coerência que manteve entre seus ideais e seu estilo de vida.

                                                 

         De fato, raramente se lê algum texto de louvor ao Che no qual não haja menção ao idealismo e à coerência do mito. No entanto, os fanáticos que se lançaram contra as Torres Gêmeas, os terroristas chechenos que produziram centenas de mortos no Teatro de Moscou e numa escola infantil em Ossétia do Norte, assim como os oficiais nazistas, os membros da Ku Klux Klan, das Brigadas Vermelhas e por aí afora, também eram idealistas e coerentes. Também amaram suas esposas, filhos e pátrias. Muitos levaram suas convicções ao martírio. E daí?

         Os brutos também amam, facínoras também sofrem e se sacrificam, mas só os comunistas contam com tão extraordinária máquina de publicidade e manipulação da história. É ela que, ainda hoje, prepara essa geléia de meias verdades, alguns fatos reais, gotas de idealismo, adocicadas utopias e fascinantes aventuras, com que são atraídas platéias incautas. Não, não me seduz a coerência com erros pavorosos, ou a ternura que se materializa no paredón, nem o idealismo aferrado a conceitos que só geraram miséria e opressão. Os terrorismos de várias vertentes, assim como o nazismo, o fascismo e o comunismo são expressões de demência política.

         Todo mundo sabe que Guevara foi um guerrilheiro comunista. E todo mundo sabe que ele não era ator nem líder religioso, não jogava bola, não era de pagode e nunca apareceu em novelas da Globo. Ele era exatamente isto: um guerrilheiro que se confessava “sedento de sangue”. Por conseqüência, assim como ninguém pode ser admirador de Pelé detestando futebol, todo culto ao Che só pode significar adoração aos objetos de sua ação: o comunismo e a revolução como instrumento para chegar a ele. Outras explicações para o mesmo fato devem ser investigadas num divã de analista freudiano.

         Se você for buscar modelos entre os grandes exemplos de idealismo e coerência do século XX, certamente, em meio a muitos outros, vai se deparar com pessoas como Ghandi, Martin Luther King, Madre Tereza, João Paulo II, Konrad Adenauer, Alcide De Gasperi, Robert Schuman. Pondere a qualidade dos ideais que assumiram. Analise a dedicação e o inestimável serviço que, concretamente, prestaram à humanidade. Compare isso tudo, leitor, com os seus próprios ideais e com os princípios que o inspiram. Por fim, coteje-os com as terríveis tragédias, fracassos e genocídios em que, inevitável e sistematicamente, desembocaram as idéias que o Che tentou impor com os instrumentos da violência.

         Os argentinos amam Maradona, mas reconhecem seus desvios de conduta e não o têm como referência para seus jovens. Nenhum pai admirador do craque o apontará como modelo aos filhos. Servir veneno à juventude, transformando em mito um sanguinário guerrilheiro, isso só a esquerda totalitária tem coragem de fazer.

                                                     


Fonte:

Especial para ZERO HORA

14 de outubro de 2007

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