A saúde pública cubana é alardeada pelos quatro cantos como uma das mais bem sucedidas em todo mundo. Mas será que isso é verdade?
O sistema de saúde pública de Cuba, uma das três fontes de poder, ao lado da educação e do esporte, tem sido o embaixador e criador por excelência da imagem benévola e humanitária do governo revolucionário cubano – o que, por sua vez, tem servido também de escudo ao exercício constante de violações dos direitos humanos mais elementares.
É por isso que me abstenho de falar das bondades do sistema de saúde pública em Cuba; já há outros que se encarregam exageradamente e manipuladamente em difundi-las.
Nesta oportunidade, queridos leitores brasileiros, pretendo colocar sob análise a outra realidade desse sistema, colocando em evidência precisamente o que não se diz.
É realmente gratuita a assistência médica em Cuba?
Pois bem, mesmo sem qualquer liberdade econômica no setor, lamentavelmente não é de todo certo o caráter gratuito do sistema de saúde pública em nosso país.
Dia após dia tem deixado de ser uma exceção para converte-se em regra o pagamento via suborno por assistência médica pelos cubanos.
Por exemplo, para que um paciente possa fazer uma Tomografia Computadorizada (TC), é extremamente difícil, quase impossível. Em primeiro lugar porque não são todos os centros hospitalares que contam com essa tecnologia para a população, e em segundo porque nos hospitais que contam com esta tecnologia, em muitos dos casos, os tomógrafos se encontram fora de serviço.
Portanto, frente ao fato da demanda pelo serviço ser maior que a oferta, isto faz com que o povo cubano tenha que pagar suborno, ou do contrário, esperar vários meses para ser atendido, pois como há de se supor, os que tem possibilidades de oferecer “regalias” – ou seja, de pagar o serviço – tem prioridade.
Seu serviço de saúde é gratuito… mas custa.
O mesmo ocorre com a assistência odontológica. Para receber esse tipo de atendimento em Cuba, se constitui um verdadeiro dilema. Não há amálgama para restauração, não há anestesia para a extração e não há material para as próteses. Contudo, se você paga, por exemplo, 10 CUC (equivalente a R$244 na moeda nacional), que equivale aos salários de um mês de trabalho para a maioria das famílias cubanas, aparecem imediatamente, como num passe de mágica, todo o material necessário; mas se não pode pagar, receberá como recompensa uma larga e incerta espera ou um tratamento que, em muitos dos casos, se torna humilhantemente inútil.
Paciente sendo “engessada” com papel higiênico. Enquanto isso, a reclamação é de que falta papel onde ele realmente deveria estar: nos banheiros.
E o que falar da qualidade dos serviços médicos?
A qualidade humana do pessoal da assistência médica é bastante deplorável; nos surpreende quando encontramos alguém que ofereça um bom tratamento e serviço. Isto ocorre tanto nas policlínicas, como nos hospitais, nos consultórios odontológicos, médicos de família, etc. Bom, na verdade, este mal se constitui numa pandemia social.
E os hospitais?
Um verdadeiro inferno! Falta higiene, as salas dos pacientes não possuem janelas, há insetos de todo tipo, escassez de água, infiltrações nos tetos, péssima alimentação, tanto para os pacientes como para os acompanhantes, assim como o mau serviço e maus tratamentos em geral.
Os hospitais hoje em dia também cumprem a função de feiras comerciais, onde convivem vendedores de todas as classes, oferecendo todo tipo de mercadoria, principalmente produtos alimentícios, se aproveitando das necessidades que sofrem neste sentido tanto os pacientes como seus familiares, mas perturbando também a tranquilidade tão necessária a estes locais.
O doente que dará entrada no hospital tem que levar consigo garrafas para armazenar água, lençóis para cobrir a cama, toalha, sabão, ventilador e outros tantos itens necessários.
Com a falta de higiene, muitos pacientes, por sua própria responsabilidade, decidem abandonar os hospitais e seguir o tratamento em suas casas pelo temor de adquirir novas doenças.
A aquisição de medicamentos constitui outro quebra-cabeça para os cubanos.
As farmácias têm seus estoques preenchidos por poucos medicamentos, tanto em quantidade como em variedade. E além da quantidade ser insuficiente, grande parte destes estoques são vendidos no mercado negro, através de intermediários – leia-se: funcionários estatais – nas sombras, que logo vendem os mesmos produtos a preços que, em certas ocasiões, triplicam seu preço oficial. Isto quer dizer que o trabalhador cubano, quando encontra um medicamento – se encontra – tem que pagar preços realmente abusivos.
E que o falar da assistência médica aos presos?!
Se existe algum direito humano que se respeite em Cuba, este não encontra guarida nas prisões. Há até presos que falecem por falta de assistência médica básica e imediata.
Amigos leitores, nem tudo que brilha é ouro. Recordem sempre que a verdadeira história se escreve no coração dos povos; as demais, especialmente as dos governos, são versões apócrifas escritas sobre estatísticas falsas.
Não se deixem enganar: a situação da saúde cubana é deplorável.
Nelson Rodrigues Chartrand é cubano, advogado e jornalista independente. Mora em Havana.
Fonte: http://spotniks.com/a-deploravel-situacao-da-saude-cubana/
28 de julho de 2014