Valter de Oliveira
Quem fala de 2016 fala com pessimismo. Não faltam razões. O descrédito de todas as esferas do poder, a corrupção assombrosa, a maior crise econômica do Brasil República, mais de 12 milhões de desempregados levaram o brasileiro a sentir-se ultrajado, amargo, cético em relação a muitas coisas. Saiu Dilma, entrou Temer. Muita gente esperava por saudáveis mudanças. Ficamos fixados no negativo.
Mas, podemos nos perguntar, houve algo de positivo para celebrarmos? Sem nenhuma dúvida. Afinal, este mesmo povo sofrido e amargurado foi o principal responsável por tirar do poder a máfia petista. Máfia que nos prometeu justiça social e em pouco tempo – com a ajuda e conveniência de políticos das mais variadas tendências ideológicas – destruiu o pouco de bem que fez, prejudicando especialmente os mais pobres, traindo seus militantes mais idealistas (e equivocados), lançando o país em uma crise dantesca. Crise já prenunciada há bom tempo e da qual já se sabia que, para voltarmos a nos reerguer, seria necessário sangue, suor e lágrimas.
Muita gente lúcida preveniu. Apegados ao projeto político criminoso de poder, Lula e companheiros não quiseram ver. Negaram o tempo todo que estivéssemos no mau caminho. Cinicamente, descaradamente. Basta lembrar a brutal manipulação política da eleição presidencial de 2014.
Não esqueçamos também outra coisa altamente positiva: a operação lava-jato que desmascarou o que é considerado o maior esquema de corrupção política do mundo. Cabe a nós pressionarmos para que seus frutos se efetivem.
Apesar de tudo poder-se-á dizer, o que mudou? Grande parte da máfia política não continua no poder? Não está pior agora?
Vamos por partes.
Lembremos que já no começo de 2015 Dilma foi obrigada a admitir que o cenário político-econômico não era tão rosado. Tentou mudar os rumos de modo estabanado e persistindo em sérios erros econômicos. Tudo sem o menor senso político. Falta de senso reconhecido depois até pelo partido. Para piorar, com o avanço das investigações policiais contra enorme número de seus dirigentes e associados, não só não se reconheceu as falhas como se lançou a uma negação sistemática da realidade. Disseram que as acusações não eram sérias, eram simplesmente puras calúnias, fruto de um conluio político das classes dominantes. Uma propaganda sem ética quis nos fazer crer que os petistas eram querubins que estavam sendo derrubados do céu, porque só eles realmente se preocupavam com o povo mais simples.
O que aconteceu com o governo Dilma? Ficou paralisado, sem base política. O clamor das ruas rachou sua base de sustentação. A maior parte mudou de lado para não afundar com o navio. E como nosso pobre presidencialismo não tem mecanismos rápidos para resolver crises políticas caímos em um longo e penoso processo de impeachment, que finalmente, aconteceu.
Sucede que o afastamento de Dilma e a retirada do PT do poder, não nos levou a nenhuma situação política ideal. Nem seria possível. Simplesmente porque quem defende o Estado Democrático de Direito tem por obrigação defender as regras do jogo e, conforme estas, Temer, que participou do governo petista, é quem deveria assumir a presidência. Também teríamos que continuar com os mesmos congressistas que foram eleitos em 2014. Muitos são indignos? Concordo. Só que não havia instrumentos legais para tirá-los do poder no momento. Nossa legislação e nosso Judiciário não colaboram. Qualquer outra coisa, aí sim, seria um golpe de Estado.
O PT, derrotado pelo povo no impeachment e esmagado nas últimas eleições municipais passou a ser oposição, o que, graças a toda uma teia esquerdista incrustada na sociedade, sabe fazer muito bem. Assim, não se importando com a incoerência habitual, passou a usar sua máquina propagandística manipuladora para criticar no governo atual até pontos que já estava propondo: reforma da Previdência, certa flexibilização trabalhista, reforma da educação. Questão fiscal já nem tanto. Afinal, gurus econômicos de esquerda acreditam que não é tão ruim crescer com inflação e que sempre há dinheiro para “ações sociais”. Como se o dinheiro do contribuinte fosse infinito.
Teria sido melhor se Dilma tivesse continuado? Não! Nem de longe. E este é um ponto que deve ser acentuado cada vez mais. Não esqueçamos que o duplipensar da esquerda adora desfigurar a história.
Muda muito com novas eleições?
Tampouco. O sistema é o mesmo. Os políticos tão criticados também são os mesmos.
Todos temos que lutar por verdadeiras reformas no País para minimizarmos futuros erros. Está mais que na hora de, em vez de ficarmos atirando pedras, tentar formar melhor a opinião pública discutindo quais reformas são necessárias, quais são seus conteúdos e como devem ser implementadas. Para isso é necessário que apresentemos uma pauta daquilo que melhor pode ajudar a sociedade. É muito fácil ser do contra. O difícil é sair do maniqueísmo e do marasmo e fazer propostas.
É o que pretendo fazer em meu blog e meu site no próximo ano. Vou tentar reunir teoria e prática. Espero que em algo ajude.
Que em 2017 renasça a esperança e que, apesar de tudo, nosso povo volte a ter dias melhores.
