Valter de Oliveira
A esquerda ressentida e amargurada espalha nas mídias sociais estereótipos acerca do conservadorismo. Sem mais nem menos este é associado a fascismo, conservadorismo, espírito de ódio e, sobretudo, como absolutamente impassível diante das misérias sociais. Naturalmente não vamos encontrar nada disso em textos sérios sobre a história das doutrinas políticas.
Para dar uma ideia dos valores defendidos por conservadores apresentamos aqui como um grande conservador brasileiro, o mineiro João Camilo de Oliveira Torres (1), aborda como um cristão deve entender suas obrigações face aos males do mundo, especialmente aos que atingem aos mais pobres. Cito parte de artigo dele:
“Como é óbvio e conhecido por todos, Cristo veio ao mundo redimir a Humanidade e não reformar a sociedade. O Evangelho não é uma doutrina política. (…) A Igreja, que é o Corpo Místico de Cristo, não se confunde com qualquer espécie de Estado, regime ou civilização(…)”
“Se a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, não se liga a qualquer estrutura social, histórica ou política definida, o cristão não é indiferente diante do mundo. Se o grande preceito do amor ao próximo, se em cada homem devemos ver Cristo, se a ofensa feita ao pobre é diretamente recebida pelo Cristo, conforme se lê claramente no Evangelho de São Mateus 25, 31-45, se são bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, como aceitar o cristão indiferente às realidades sociais? Todo sofrimento é consequência do Pecado Original, é a sua marca. Se aceitamos a presença do mal, se não procuramos lutar contra ele, estaremos cumprindo o nosso dever de amor? Certamente é belo dar esmola ao pobre; mas se descobrirmos um meio de acabar com a pobreza em si mesma, de modo a não haver nenhuma pessoa necessitada de mendigar, não estaremos indo diretamente ao fim prescrito? A ideia é de Santo Agostinho: abolida a pobreza, ficaremos sem a oportunidade de praticar algumas obras de misericórdia, embora não todas, pois sempre haverá sofrimento no mundo. Então a Caridade será mais perfeita, uma vez que é difícil o Amor entre as pessoas de condições muito diversas – uma certa igualdade é condição de um verdadeiro amor. E, sejamos francos: haverá, mesmo, caridade, amor fraternal entre o que dá esmola e o que recebe? Além de alguns santos – e dos maiores – na maioria dos casos, nem tanto. Na verdade, o que ocorre, é bem o contrário.
O fato, que ninguém poderá contestar, é que o cristão não ficará indiferente à injustiça do mundo. (…) O cristão, (…) mesmo aquele quer formalmente perdeu a Fé e vive fora da Igreja, não poderá ver impunemente o triunfo do mal. Reagirá, sempre, de um modo qualquer” (2).
O que tivemos nas últimas eleições foi uma reação do que ainda resta de cristianismo em nossa sociedade. Não aguentávamos mais ver impunemente o mal triunfando. Foi uma luta não só em prol de um retorno à ordem política. Foi sobretudo, por parte de muitos setores, uma luta pelo retorno a uma reta ordem natural fundada em Deus. E, por isso mesmo, em proveito dos mais pobres e todos os verdadeiramente desvalidos. Esse conservadorismo nada tem da frialdade com que a esquerda quer nos manchar.
Coisa que as viúvas de Lula e do PT não entendem ou não querem entender. Nem entenderão, enquanto estiverem cegos por uma ideologia sectária e fundamentalista.
Notas:
- João Camilo de Oliveira Torres, nasceu em Itabira, Minas Gerais, em 1915. Foi brilhante professor de várias disciplinas na área de humanas, escritor fecundo, jornalista, redator chefe da Folha de Minas e redator de O Diário, ambos de Belo Horizonte. Faleceu em 1973 aos 57 anos.
- Fonte: Torres, João Camillo de Oliveira. “O Elogio do Conservadorismo e outros escritos”. Organização Daniel Fernandes, Prefácio de Bruno Garschagen. Curitiba, PR: Arcádia, 2016, p. 74-75.
- Assista ao vídeo https://www.olivereduc.com/sem-categoria/igreja-catolica-a-maior-instituicao-caritativa-do-mundo/