Valter de Oliveira
O povo saiu às ruas. O Brasil acordou! Muitos se entusiasmam. A esperança renasce. Opinião até do cardeal de São Paulo, D. Odilo.
Os políticos não esperavam. Em São Paulo o prefeito e o governador cederam. O MPL (movimento passe livre, que desencadeou as manifestações) venceu. O povo também, dizem outros.
As manifestações foram pacíficas. Uma vitória da democracia! Diz a Mídia.
A democracia está em perigo! Exclamam alguns formadores de opinião.
Quem está certo?
De modo esquemático vou explicar o que penso. Em mais de um artigo. Peço-lhes paciência.
São Paulo: O MPL e a tarifa dos transportes.
Início de junho. Alguns jovens do Movimento Passe Livre convocaram manifestantes para combater o aumento das tarifas dos transportes em São Paulo. Nada mais natural em uma democracia.
Lembremo-nos que as tarifas não foram aumentadas em janeiro, como de praxe, porque a presidente Dilma pediu a colaboração do governador e do prefeito. “Adiem a correção”. Qual o objetivo? maquiar a inflação provocada pelo governo federal. Com o aumento das tarifas o índice inflacionário apontado pelos órgãos governamentais seria maior. Não ocorreu. Aparentemente bom para quem paga o transporte. Mau para o trabalhador que teve reajuste salarial baseado em uma inflação falsa, para o proprietário que vai ter alugueis reajustados, etc, etc…
E o que fez a imprensa? O que fizeram nossos jornalistas que têm por missão informar bem à sociedade?
Pediram aos arrivistas do MPL (ao mesmo tempo manipulados e manipuladores) que explicassem o que era o movimento? Como surgiu? Quais seus reais objetivos?
Nem de longe!
Perguntaram aos iluminados líderes do MPL se era razoável pedir ao Estado e à Prefeitura arcar com o prejuízo? Indagaram por que são contra o capitalismo? Pediram que explicassem no que o socialismo que querem implantar difere do socialismo de Fidel ou do “comunismo hereditário da Coréia do Norte?
Nem pensar!
Resultado: as questões vazias dos repórteres ajudaram os “garotos” a aparecer, pelo menos para certo público, como heróis! Grande serviço à sociedade!
Finalmente: Todos nós queremos uma mídia que nos dê informações corretas para que possamos formar nossas opiniões. Qual canal de TV, em horário nobre, mostrou-nos que os jovens dos movimentos sociais “apolíticos” foram financiados de vários modos pelo governo PT e pela esquerda global? (2)
Em todo esse episódio nossa mídia, mais uma vez, com as raras e honrosas exceções, teve uma postura deplorável. (3)
Vamos aos fatos. Comecemos pelo MPL.
1. O que é o MPL. O que quer?
Eis o que diz o site do movimento:
“O Movimento Passe Livre (MPL) é um movimento social brasileiro que luta por um transporte público de verdade, fora da iniciativa privada. Uma das principais bandeiras do movimento é a migração do sistema de transporte privado para um sistema público, garantindo o acesso universal através do passe livre para todas as camadas da população.(…)”.
2. Como surgiu o grupo?
“a partir da “revolta popular que originou os princípios e a ideia do Movimento Passe Livre acontecida em Salvador, Bahia” e articulações políticas feitas em Florianópolis em 2004″.
A partir daí o grupo resolveu “organizar uma grande reunião (plenária) no quinto Fórum Social Mundial, em janeiro de 2005. Lá, pessoas de diversas cidades do país dividiram suas experiências na luta por um transporte coletivo de livre acesso e pelo passe livre estudantil. Ali nasceu, oficialmente, o Movimento Passe Livre, que hoje está presente em todas as regiões do país, nas principais cidades”.
3. Como se organiza o MPL?
“através de princípios básicos, aprovados na plenária pelo passe livre, ocorrida no quinto Fórum Social Mundial, em 2005:independência, apartidarismo, horizontalidade e decisões por consenso. Durante o 3º Encontro Nacional do Movimento Passe Livre (ENMPL), em julho de 2006, adicionou-se o federalismo como princípio. Tais princípios só podem ser modificados pelo método do consenso”.
4. A articulação
“A articulação nacional do movimento é feita atraves de GTNs (Grupos de Trabalho Nacional), onde o movimento organiza ações conjuntas, impressos nacionais (como o jornal nacional do movimento) e o Encontro Nacional do Movimento Passe Livre (ENMPL). No último ENMPL, foi decidido como indicativo a criação de GTs de comunicação, organização e apoio jurídico”.
Como o amigo leitor pode ver é um movimento perfeitamente articulado. O Forum Mundial foi montado, organizado, com o apoio do PT, da esquerda brasileira, da esquerda mundial. O objetivo é desenvolver estratégias anticapitalistas, antiglobalização rumo ao socialismo tão sonhado. Tudo isso, quero destacar, conforme a chamada revolução cultural neo-marxista que, em conluio com capitalistas, multinacionais e organismos da ONU são favoráveis à “cultura da morte”.
Desses movimentos, instruídos pelos intelectuais orgânicos gramscianos, surgem os meninos “laranjas” que viram heróis nacionais e hoje devem ser recebidos pela presidente Dilma…
Você, meu amigo leitor, sente-se representado por eles? Olhando-os, percebe a “energia” que estimulará a chefe do Executivo a dar um “salto qualitativo” de eficiência pública? Nota em seus olhos “vivazes” a profundidade do conhecimento da realidade nacional?
Colegas meus, incluindo marxistas, tenho certeza, são mais do que as 50 “sumidades” do MPL de São Paulo.
Se a presidente os conhecesse não os convocaria. Perceberia que eles não se conformam com a hipocrisia e a indignidade reinantes.
Por enquanto paro por aqui. Continuo na próxima semana.
Notas:
1. Parte 2 na próxima postagem.
2. Conforme podemos ver no site de Reinaldo Azevedo a Petrobrás enviou nota a ele confirmando que havia financiado o MPL até dezembro de 2012. O contrato, superior a R$ 600.000,00 foi feito para que o movimento desenvolvesse um site em Santa Catarina…
3. Sobre a atuação dos intelectuais na mídia veja esse comentário de Reinaldo Azevedo:
“Aquele ninhal de “intelectuais” que dá plantão na GloboNews acha isso (as manifestações) uma coisa realmente encantadora, nova, progressista, virtuosa… Deixo aqui para vocês uma reflexão — e voltarei ao tema na madrugada: numa sociedade em que os canais de interlocução não sejam mais, então, os partidos, as instituições e os Poderes Constituídos e em que tudo passa a ser permitido — desde que seja sem violência, claro! —, quem governa?
Os que se encantam com esse tipo de coisa, vendo nisso uma sociedade mais democrática, mais livre e mais igualitária ou não aprenderam nada com a história ou, tendo aprendido, defendem um regime de governo que não é a democracia”.