Bolsonaro é um genocida? É o maior culpado por nosso fracasso em enfrentar a atual epidemia? É um Pilatos que aproveitou a decisão do STF a favor da autonomia de governadores e prefeitos para lavar as mãos e deixar o governo federal inerte no meio da luta? Merece ser execrado? Todos devemos nos unir por seu impeachment? E que tal levá-lo às barras de um tribunal internacional para ser julgado e condenado pelo genocídio de seu povo? (1)
Tais acusações não ficam restritas a alguns. É o pensamento geral da esquerda e da grande mídia. As acusações são repetidas com tanta frequência que mesmo liberais, conservadores e até certos tradicionalistas católicos estão passando a ser críticos do presidente. Alguns destes acertam. De modo preciso e equilibrado apontam os erros que os preocupam. Outros, infelizmente extrapolam. Quando o fazem? Quando embarcam na narrativa da grande mídia. Quando começam a propagar que todos os males de agora são devidos às falhas do presidente e passam a ideia que, se fosse outro nosso maior mandatário a situação seria significativamente melhor. Difícil exercício de futurologia. Fosse assim tão simples, países bem mais estruturados que o nosso como Alemanha e outros, não estariam ainda passando por tantas dificuldades.
Destaco também outro ponto: a volúpia de alguns não só em considerar Bolsonaro o pior presidente da história, mas também a propagação da ideia de que a atuação do Brasil na saúde pública é uma vergonha para nós. No Brasil estaria condensada a incompetência geral. E acrescentam: “Somos vistos com vergonha lá fora, e somos responsáveis por levar o perigo dos males da pandemia a todo o mundo” … (2). Assim joga-se no lixo tudo o que de bom e nobre vai sendo feito no país pelos governos e pela sociedade. Sangue, suor e lágrimas são cobertos pelo monturo. Baita injustiça. Como diz um velho ditado: “Tudo o que é exagerado é insignificante.
Claro está que, do ponto de vista das chamadas liberdades de opinião, todo governo é passível de crítica. Faz parte do jogo democrático. A questão é saber quando ela é conforme à realidade. Em nossa atuação política, como cidadãos, tal como na vida pessoal, também temos que levar em conta princípios e valores; ética e legalidade.
Chegamos ao ponto: toda crítica, na medida do possível, deve estar alicerçada em um correto juízo da realidade. A partir daí podemos discutir as responsabilidades de nossos governantes. Fica a pergunta: temos condições de fazer tal juízo?
Quando eu era jovem ouvi muitos professores afirmarem que é difícil se fazer um juízo histórico adequado de figuras políticas, de governos, de instituições. Seria conveniente e preciso uma certa distância no tempo, que nos deixaria mais longe das paixões provocadas por uns e outros. Mais ainda, no devido tempo teríamos mais informações, mais fontes primárias, mais material de diferentes tipos para compararmos e que nos ajudariam a formarmos nosso juízo.
Muito bem, que elementos eu tenho para saber o que acontece internamente no governo Bolsonaro, tanto com seus ministros e aliados quanto com seus adversários?
Pouco. Geralmente confiamos em um articulista ou repórter que, aludindo a fontes que geralmente não cita, afirma que determinadas coisas aconteceram.
Notícias que, como ensina Demétrio Magnoli, geralmente são também editadas…
Contudo, prefere-se a velocidade. Juízos são feitos rapidamente. Mesmo e principalmente por muita gente que em geral não lê notícias completas e que não tem o hábito de procurar outras fontes para comparar. Menos ainda para refletir.
Volto ao ponto principal: o presidente, por suas palavras e ações durante a atual pandemia, merece ser tido como facínora e genocida? Tenho provas baseadas de que ele conscientemente age para destruir o povo brasileiro? Também posso asseverar, baseado na realidade, que, como seus adversários dizem, ele cruzou os braços e nada fez para em defesa da saúde pública?
De antemão respondo: a acusação ultrapassa o bom senso, rejeita a verdade, fere o princípio da justiça que nos manda julgar alguém dando a cada um o que é devido. Não é difícil mostrar que houve ações positivas feitas pelo governo federal desde o início de 2020. (3) O que obviamente não implica em afirmar que mais não podia ser feito, ou que houve erros.
É importante ressaltar que os adversários extremados do presidente têm a obrigação de mostrar que atitudes erradas de Bolsonaro podem ser tipificadas como crime, e crime de genocídio. Nada vi nessa linha além de acusações genéricas politizadas.
Na minha opinião são afirmações bem longe do que é o verdadeiro Direito. Bem longe.
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Notas: os destaques em negrito são do olivereduc.
1.Vejas as acusações apoiadas pelo articulista Rui Castro: “Desde o 1.º de Janeiro de 2019, quando tomou posse como presidente do Brasil, Jair Bolsonaro já foi chamado de idiota, inepto, analfabeto, despreparado, irresponsável, cínico, palhaço, arrogante, desequilibrado, louco, maluco, demente, torturador, homófobo, racista, xenófobo, fascista, nazista, facínora, criminoso, assassino, sociopata, psicopata e, ultimamente, genocida. Isto até a última contagem e apenas entre os epítetos que podem ser publicados em letra de forma – os outros, mais pesados, são correntes nas conversas dos brasileiros no dia-a-dia, de viva voz ou pelas redes sociais, e costumam ser acompanhados de bocas espumantes, picos de pressão sanguínea e apoplexias. E quando digo que esta lista só vai até a última contagem, é porque passei a manter um caderno para anotar diariamente os nomes diferentes com que o classificam, em jornais e revistas, e eles surgem à média de três ou quatro por dia.
(…) sua atitude diante do coronavírus já bastou para caracterizá-lo como o pior presidente do planeta neste momento, medalha esta que lhe tem sido conferida por jornais europeus e americanos. Juntamente com os notórios Daniel Ortega, da Nicarágua, Aleksandr Lukashenko, da Bielorrússia, e Gurbanguly Berdymukhamedov, do Turcomenistão, ele está contra a sua própria população e a favor do vírus.
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/25-abr-2020/assassino-psicopata-genocida-12105433.html
2. No próximo artigo abordaremos o que há de falácia em relação aos erros brasileiros.
3. Há muitos dados que mostram uma política afirmativa do governo federal no combate à pandemia e na ajuda a estados e municípios. Também iremos citá-los na próxima semana.
Observação final:
Vejam no artigo 3 aqui no site o que escreve Mario Rosa sobre genocídio. O título de seu artigo é “A banalização do termo “genocida” é um ultraje às vítimas”.