Papa João Paulo II 05/10/2009
“Permanecem na minha memória as palavras pronunciadas pelo cardeal Stefan Wyszinski no dia 11 de maio de 1946 (…): “Ser bispo traz em si alguma coisa da Cruz, por isso a Igreja põe a Cruz no peito do bispo. Na Cruz é preciso morrer para si mesmo: sem isso não há plenitude de sacerdócio” (…) “A esses pensamentos o cardeal voltou ainda numa outra ocasião: “Para um bispo a falta de fortaleza é o início da derrota” (1) Também são suas estas palavras: “A maior falta do apóstolo é o medo. O que desencadeia o medo é a falta de confiança na força do Mestre; é esta que oprime o coração e aperta a garganta. O apóstolo para então de professar. Permanece apóstolo? Os discípulos que abandonaram o Mestre aumentaram a coragem dos algozes. Quem se cala perante os inimigos de uma causa, os fortalece. O temor do apóstolo é o primeiro aliado dos inimigos da causa. “Obrigar a calar através do medo” é o primeiro passo da estratégia dos ímpios.(2) O terror utilizado em toda ditadura é calculado em base ao medo dos apóstolos. O silêncio possui sua eloqüência apostólica apenas quando não afasta o rosto de quem nele bate. Assim, calando, fez Cristo. Mas com aquele gesto demonstrou a própria fortaleza. Cristo não se deixou aterrorizar pelos homens. Saindo ao encontro da multidão disse, com coragem: “Sou eu” (3). Realmente, não se pode voltar as costas à verdade, parar de anuncia-la, esconde-la, mesmo se se trata de uma verdade difícil, cuja revelação traz consigo uma grande dor. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jó 8,32): aí está nossa tarefa e, ao mesmo tempo, nosso suporte! Aí não há espaço para cedências nem para um recurso oportunista à diplomacia humana. É preciso dar testemunho da verdade, mesmo a preço de perseguições, até a custo de sangue, como fez o próprio Cristo e como outrora fez também meu santo predecessor em Cracóvia, o bispo Stanislao di Szczepanów. Seguramente encontraremos provações. Não há nada de extraordinário nisso, faz parte da vida de fé. Ás vezes as provas são leves, às vezes muito difíceis ou absolutamente dramáticas. Na provação podemos nos sentir sozinhos, mas a graça divina, a graça de uma fé vitoriosa não nos abandona nunca. Por isso podemos confiar que superaremos vitoriosamente toda provação, até a mais dura.” (4) Notas: 1. Stefan Wyszynski, Zapiski wiezienne. Parigi: 1982, p. 251. |