A maturidade é um dos traços da personalidade harmoniosa que se relaciona bem consigo própria, com os demais e com o mundo: dá a nota adequada a cada situação, sem estridências, tal como um instrumento musical afinado. Esse processo se desenvolve ao longo dos anos, e ninguém pode se considerar totalmente amadurecido, pois a vida traz novos desafios que não se sabe como serão enfrentados. Definir o que é uma pessoa madura não é fácil, mas o é perceber a falta de maturidade no comportamento de alguém. O psicólogo americano Gordon Allport, professor de Harvard, considerado o pai da psicologia da personalidade, oferece seis critérios para a avaliação da própria maturidade, e a daqueles a quem se deve ajudar em sua formação:
1.Extensão do sentido de si mesmo: refere-se à conexão do eu pessoal com o de outra pessoa. Sair do limite pessoal e perceber os desejos, sentimentos e necessidades do outro é tão importante quanto ao bem próprio, seja na família, no trabalho, na escola ou na vida social. A extensão de si mesmo evita apontar as carências que se percebem numa instituição ou em seus dirigentes, porque ao fazer a pessoa se sentir inserida nesse contexto, procura ajudar a resolver os problemas, não agindo como telespectador que se dedica a criticar.
2. Relação emocional com outras pessoas. É característica da pessoa madura relacionar-se emocionalmente bem com todos: é empática, compreensiva, tira importância dos defeitos dos demais, ouve com atenção e convive com os que pensam diferente. Com isso, faz autênticas amizades porque age desinteressadamente, foge das críticas e murmurações, não cria panelinhas. O imaturo quer que todos pensem a ajam como ele, e quando as coisas não são como deseja, lança o veneno das queixas, críticas, ciúmes e sarcasmos.
3. Segurança emocional. Trata-se da pessoa que expressa seus sentimentos com proporcionalidade, não exagerando neles em situações que merecem poucos sentimentos, nem coloca menos sentimentos em situações que mereceriam mais. Por exemplo, seria uma desordem colocar mais sentimentos nos animais que em pessoas; ter tal preocupação pela comodidade pessoal que leva à indiferença ou falta de espírito de serviço aos demais. O maduro sentimentalmente tem saudável autocrítica, que o torna flexível às circunstâncias: sabe perdoar, cumpre suas obrigações quando seu estado de ânimo é contrário, não é imediatista e persevera no esforço por alcançar um bem maior, mas distante; tolera as frustrações e contrariedades sem chutar o balde; não cai na raiva ou na autocompaixão diante dos seus erros, não busca um culpado para descarregar a própria culpa. Estar atento na formação das pessoas sobre o modo como vivenciam, desde pequenas, seus estados de ânimo: friezas ou rompantes afetivos que destoem da realidade de cada situação.
4.Percepção realista diante dos fatos. A capacidade de interagir com a realidade, vendo-a sem distorcê-la sentimental ou emocionalmente, é sinal de maturidade. Essa capacidade é muito importante para trabalhar em equipe, pois apresenta soluções reais e factíveis. O pensamento imaturo é mágico e infantil, distorcendo ou negando a realidade: “– Não, isso não pode acontecer comigo!”, e altera os fatos para acomodá-los às suas emoções ou critérios egoístas, porque afetam seus interesses próprios.
5.Autoconhecimento e senso de humor. Conhecer-se bem e admitir as próprias qualidades e defeitos é sinal de maturidade. Quem é consciente de suas limitações é menos propenso a atribuir defeitos nos demais, e por isso é mais aceito nos diferentes grupos a que pertence; e, caso deva fazer algum julgamento, é compreensivo. O ditado que diz: “o melhor negócio do mundo é comprar um homem pelo que vale e vende-lo pelo que acha que vale”, revela o desconhecimento de si que possuem os imaturos. Um bom caminho para o real conhecimento de si é perguntar-se: “–Como as pessoas me veem?”, “– É correta ou falsa a opinião que têm de mim?”. Não pode haver distância entre o que sou, o que poderia ser, o que gostaria de ser, o que creio que deveria ser e o que os outros me dizem que poderia ser.
6.Filosofia unificadora da vida. A personalidade madura tem uma filosofia que orienta suas ações em busca do fim que escolheu alcançar. Avalia a coerência de suas ações em busca de seus objetivos vitais. Allport diz que o teórico procura a verdade, o utilitarista busca o útil, o estético busca a forma, o político busca o poder, o religioso busca a unidade de sua vida com Deus. Cada pessoa deve descobrir seu caminho e aderir livremente a ele. Pais e educadores devem apresentar um ideal de vida atrativo e atingível àqueles a quem ajudam a formar: que se perguntem sobre o tipo de pessoa que desejam ser, que ideal as atrai, o que podem oferecer como o melhor de si para servir e ser úteis aos demais, contando para isso com a ajuda de Deus.
Texto adaptado por Ari Esteves para o site www.ariesteves.com.br, com base no livro “A formação da afetividade”, de Francisco Insa, capítulo “Como medir a maturidade”, publicado pela Cultor de Livros, São Paulo (SP), 2021. Imagem de Artem Podrez. (06.11.2024)
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