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CIDADANIA / CASA NOVA PARA OS MENORES

CASA NOVA PARA OS MENORES

 

 

O Estado de São Paulo, 30 de abril de 2009


Noticiário Nacional (Por uma carinha alegre ou algo semelhante)

 

Há cinco meses, os menores assistidos pelo Estado nas unidades da Fundação Casa não promovem rebeliões ou motins. Durante todo o ano passado, houve apenas 3 ocorrências. Em 2005, foram 53. No período de cinco anos, as fugas se reduziram de 775 para 33.

A descentralização do atendimento mediante a construção de unidades menores no interior do Estado, a separação dos menores de acordo com o grau de periculosidade e compleição física, a educação continuada e o acompanhamento médico e psicológico foram alguns dos fatores para a melhoria no trabalho de assistência e recuperação dos menores. A imagem negativa da velha Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), que funcionou como escola de bandidos durante anos, desvaneceu-se.

Há exatos dez anos, a Febem viveu o auge de uma crise que parecia não ter fim. Foram mais de 20 motins em 1999 nos Complexos Imigrantes, Tatuapé, Raposo Tavares e Franco da Rocha, dos quais fugiram 2.252 internos. Cenas de extrema violência chocaram a opinião pública e colocaram o governo do Estado em xeque.

No dia 25 de outubro daquele ano explodiu a mais violenta rebelião da história da Febem, no Complexo Imigrantes. Durante 18 horas os internos mantiveram reféns sob a ameaça de martelos, serrotes, porretes e enxadas. Dois monitores foram espancados e atirados de um muro de cinco metros. Ao final, 58 pessoas ficaram feridas, três prédios foram destruídos e quatro menores foram mortos por outros internos, dois deles carbonizados e um teve a cabeça e membros decepados.

Foi o auge de um longo processo de degradação do sistema, provocado pela superlotação das unidades em razão de internações desnecessárias determinadas pelo Judiciário e pelo recolhimento, na capital, de menores de todo o Estado, para aqui despachados pelas prefeituras. Era falha a coordenação entre a Febem e a Justiça e sobravam denúncias de maus-tratos aos adolescentes por parte dos monitores.

Houve várias tentativas de melhoria do sistema da Febem, mas foram necessários dez anos para que começassem a ser vencidas as resistências às mudanças de funcionários da antiga fundação, de juízes da Infância e da Juventude e de muitos prefeitos do interior paulista.

Foi complicado, e ainda é, o processo de livrar a fundação de funcionários despreparados e envolvidos em atos de tortura e de corrupção. Foi difícil convencer o judiciário a mudar o hábito de destinar à Febem todo e qualquer menor flagrado infringindo a lei, independentemente da gravidade da infração, e os prefeitos a aceitarem a responsabilidade pela assistência aos menores infratores de seus municípios.

Hoje, já há 27 cidades que passaram a se responsabilizar por seus menores infratores, em 39 pequenas unidades. Muitas têm sido bem-sucedidas nos trabalhos de recuperação graças, principalmente, ao cuidado de organizar a assistência prestada de acordo com as necessidades específicas dos menores e da cidade.

Em Sorocaba, por exemplo, 210 jovens foram atendidos nas duas unidades instaladas no município desde 2006. A pedagogia empregada de acordo com as condições locais produz bom nível de recuperação. Dos menores atendidos, 82 estão empregados.

Os juízes também passaram a determinar a internação somente para os casos mais graves, permitindo ao Estado a desativação das grandes unidades como o Complexo do Tatuapé da antiga Febem. Hoje, há mil vagas ociosas no sistema, uma situação impensável há dez anos, quando o número de internações aumentava mais rapidamente do que a construção de novas unidades.

Atualmente, 30% dos crimes praticados por menores estão relacionados com o tráfico de drogas - três vezes mais do que o índice registrado há dois anos. Mas, agora, quando um menor é flagrado vendendo drogas, os juízes costumam determinar a aplicação de medidas socioeducativas em liberdade assistida ou semiliberdade.

O desafio agora é conseguir que esse tipo de pena resulte em reeducação. Cabe aos governos estadual e municipais dar prioridade à formação de mais profissionais para cumprir essa tarefa.

 



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