(Dedico esta postagem ao Prof. Carlos Patrício Mercado Samanez, brilhante colega da UERJ, que me sugeriu escrever sobre o assunto, que foi tema de dois artigos publicados no JB em outubro de 2007)
Está no jornal de hoje: “O Brasil subiu no ranking da ciência. De acordo com a avaliação anual feita pela National Science Indicators (NSI), uma das maiores bases de dados científicos do mundo, o país atingiu o 13º lugar na classificação global em produção científica em 2008, duas acima da colocação obtida em 2007”. E a matéria prossegue mostrando que no ano passado o Brasil, com 30.415 artigos publicados em revistas, ultrapassou a Rússia e a Holanda, embora ainda esteja muito distante do primeiro colocado, que são os Estados Unidos, com 340.638 papers publicados.
Motivo para festejar? Não, pois a qualidade desse crescimento no número de artigos é muito questionável: a política da Capes induz nossos pesquisadores a preocuparem-se mais em publicar seus artigos “acadêmicos” – que nem sempre são de fato acadêmicos -, para que a sua instituição alcance uma boa nota na avaliação trienal, do que em produzir ciência e tecnologia com resultados positivos para o país. É um erro crasso prestigiar mais os papers acadêmicos do que pesquisas que possam resultar em inovações tecnológicas, patentes industriais e geração de riqueza material e intelectual para o Brasil. É a política do paper pelo paper, sem qualquer preocupação quanto à eficácia dos resultados, em que o artigo publicado não é mera conseqüência, mas o fim próprio da pesquisa: em nossas universidades, não é o cavalo que sacode o rabo, mas o rabo que balança o cavalo... O objetivo, adulterado, passa a ser o de publicar a qualquer custo, inclusive ao imenso custo do esbanjamento de recursos escassos, em um país pobre.
Atestando o que escrevemos acima, o Brasil respondeu por apenas 0,06% das patentes registradas nos EUA em 2008, contra 0,79% da Coreia do Sul, 1,31% da Itália, 2,96% da França e 22,67% do Japão.
Os “sábios” da Capes que avaliam os pesquisadores interessam-se somente em anotar em que publicação os resultados das pretensas pesquisas foram divulgados; não cogitam entrar no mérito da qualidade nem avaliar sua relevância para o conhecimento. De que vale para o país um pesquisador universitário com doutorado no exterior se a sua maior preocupação é com a cobrança quanto ao número de artigos publicados?
Ademais, como nas áreas tecnológicas, dependendo da qualidade da revista, a publicação internacional costuma ser muito difícil e demorada, o “jeitinho brasileiro” encontrado foi criar um montão de revistas nacionais, muitas delas com nomes em inglês - Brazilian Journal of Qualquer Coisa -, sem qualquer tradição e preocupação com a qualidade. Quem entrar na Internet e observar os comitês editoriais de muitas dessas revistas reputadas como “científicas” perceberá que, com honrosas exceções, são integrados por burocratas congênitos, irrelevantes no contexto científico-acadêmico de sua área de atuação, mas politicamente “engajados”.
O problema da educação no Brasil não de é falta de verbas, mas de excesso de verbos! Nosso ministro da Educação tem todo o direito de querer candidatar-se ao cargo que desejar, no Executivo ou no Legislativo, mas o leitor pode, em sã consciência, se arriscar a dizer quando um brasileiro ganhará algum prêmio Nobel na área tecnológica ou humana? Não me enganem, porque eu não gosto!
Fonte: http://www.ubirataniorio.org/blog.htm