FILOSOFIA / AS RELAÇÕES PERIGOSAS ENTRE POLÍTICA E ESPETÁCULO
AS RELAÇÕES PERIGOSAS ENTRE POLÍTICA E ESPETÁCULO
Elisa Marconi e Francisco Bicudo
Quando anunciou publicamente sua doença (um linfoma, câncer que se manifesta por conta de alterações encontradas nos linfócitos, que são as células associadas à defesa do organismo), a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, foi também enfática ao afirmar que não permitiria que seu tratamento fosse espetacularizado pela mídia. A mensagem de Dilma era explícita: sua vida privada deve ser preservada. E o que se espera da mídia é que consiga tratar o caso com responsabilidade e serenidade, sem escorregar nas disputas partidárias – e sem transformá-lo também em mais um folhetim ou novela com tons de dramalhão ou enfoques sensacionalistas.
Para Alberto Diniz, em artigo veiculado pelo site do Observatório da Imprensa de 27 de abril, esse “é também um novo desafio a ser enfrentado por nossa mídia, que ainda não encontrou maneira de equilibrar seu inalienável compromisso de ser veraz e manter a sociedade informada com o imperioso dever de tratar com humanidade e delicadeza aqueles que enfrentam situações pessoais dolorosas”. Separar a política da lógica do espetáculo e do entretenimento, aliás, tem sido tarefa cada vez mais difícil. Nas sociedades contemporâneas, a imagem e as representações superam o debate de ideias. Afinal, “para acontecer, se fazer presente, a política precisa aparecer na mídia”, avalia Luis Mauro Sá Martino, professor da Faculdade Cásper Líbero e autor dos livros Mídia e Poder Simbólico e Estética da Comunicação, entre outros. “O político vira celebridade”, completa o pesquisador. Em entrevista exclusiva ao site do SINPRO-SP, Martino volta à Grécia para explicar as origens dessa relação e diz que a política de certa forma sempre foi marcada por um componente afetivo. “O problema não é a emoção, mas o espetáculo”, reforça. Os melhores trecho da conversa você confere a seguir.