Introdução de Olavo de Carvalho. Extraído de seu site.
Como milhões de outros idiotas no mundo, também eu me deixei impressionar pelo livro de John Cornwell, O Papa de Hitler, que parecia dar respaldo historiográfico às acusações lançadas contra Pio XII pela peça de Rolf Hochhuth, O Vigário. Cheguei a dar eco a essas acusações num artigo em O Globo, coisa de que muito me arrependi, mais tarde, ao saber que o sr. Cornwell era um belo vigarista, capaz de gabar-se de pesquisar por anos a fio na Biblioteca do Vaticano, onde na verdade só estivera duas vezes, e de apresentar como descobertas suas inéditas alguns documentos que copiara de publicações acadêmicas. É verdade que a demonstração cabal da desonestidade de um pesquisador não impugna, por si, os resultados da sua pesquisa. Mas, desde logo, coloca-os sob uma suspeita bem mais fundamentada do que aquela que tentavam lançar sobre o personagem que investigavam.
Nem Hochhuth nem Cornwell são judeus. Se o fossem, poder-se-ia alegar em seu favor o atenuante do zelo patriótico. Mas são apenas falsos cristãos, que querem semear a intriga entre a Igreja e os judeus mediante a dimafação de um homem inocente e santo. Um homem que os judeus conheceram e a respeito do qual deixaram os depoimentos reunidos no livro recente de Ralph McInerny, onde o jornalista Joseph Sobran recolheu as amostras transcritas neste artigo.
O leitor pode, portanto, escolher. Ou acredita naqueles que presenciaram a ação de Pio XII durante a II Guerra Mundial, ou acredita naqueles que tentaram reconstrui-la a seu modo, seja pelos artifícios da arte cênica, seja pelos de uma historiografia fraudulenta.
Traduzo e publico aqui este artigo de Joseph Sobran em sinal de meu expresso arrependimento de ter dito qualquer palavra contra o grande Papa, confiado na pretensa autoridade de Hochuths ou Cornwells. – O. de C.
Nada, ao que parece, consegue dissipar a crença de que Pio XII manteve um “vergonhoso silêncio” em torno da perseguição dos judeus durante a II Guerra Mundial. Mas Ralph McInerny, no seu livro The Defamation of Pius XII (“A Difamação de Pio XII”), cita o que judeus, famosos ou não, disseram naquele tempo.
“Só a Igreja Católica protestou contra o assalto hitlerista à liberdade”, disse Albert Einstein.
Em 1942, o jornal Jewish Chronicle, de Londres, observou: “Uma palavra de sincera e profunda apreciação é devida pelos judeus ao Vaticano por sua intervenção em Berlim e Vichy em favor de seus correligionários torturados na França... Foi uma iniciativa incentivada, honrosamente, por um bom número de católicos, mas para a qual o próprio Santo Padre, com sua intensa humanidade e sua clara compreensão das verdadeiras e mortais implicações dos assaltos contra o povo judeu, não precisou ser incentivado por ninguém.”
O Dr. Alexandre Safran, rabino-chefe da Romênia, escreveu em 1944: “Nestes tempos duros, nossos pensamentos, mais que nunca, voltam-se com respeitosa gratidão ao Soberano Pontífice, que fez tanto pelos judeus em geral... No nosso pior momento de provação, a generosa ajuda e o nobre apoio da Santa Sé foram decisivos. Não é fácil encontrar as palavras adequadas para expressar o alívio e o consolo que o magnânimo gesto do Supremo Pontífice nos deu, oferecendo vastos subsídios para aliviar os sofrimentos dos judeus deportados. Os judeus romenos jamais esquecerão esses fatos de importância histórica.”
Quando os Aliados libertaram Roma, uma Brigada Judaica afirmou em seu Boletim: “Para a glória perene do povo de Roma e da Igreja Católica Romana, podemos afirmar que o destino dos judeus foi aliviado pelas suas ofertas verdadeiramente cristãs de assistência e abrigo. Mesmo agora, muitos ainda permanecem em lares religiosos que abriram suas portas para protegê-los da deportação e da morte certa.”
Um sobrevivente, citado num diário hebraico de Israel, disse: “Se fomos resgatados, se os judeus ainda estão vivos em Roma, venham conosco e agradeçamos ao Papa no Vaticano.”
Um Comitê da Junta Judaica Americana de Bem-Estar Social escreveu ao próprio Pio XII: “Recebemos relatórios de nossos capelães militares na Itália sobre a ajuda e a proteção dos judeus italianos pelo Vaticano, pelos padres e pelas instituições da Igreja durante a ocupação nazista do país. Estamos profundamente comovidos diante dessa extraordinária manifestação de amor cristão – tanto mais porque sabemos dos riscos corridos por aqueles que se prontificaram a abrigar os judeus. Do fundo de nossos corações enviamos a V. Santidade a expressão de nossa imorredoura gratidão.”
Os veteranos de um campo liberado foram a Roma e apresentaram a Pio XII a seguinte carta: “Agora que os Aliados vitoriosos quebraram nossas cadeias e nos libertaram do cativeiro e do perigo, que nos seja permitido expressar nossa profunda e devota gratidão pelo conforto e ajuda que Vossa Santidade se dignou de nos garantir com paternal preocupação e infinita ternura ao longo dos anos de nosso internamento e perseguição... Ao fazê-lo, Vossa Santidade, como a primeira e a mais alta autoridade na Terra, ergueu sua voz universalmente respeitada, em face de nossos perigosos inimigos, para defender abertamente nossos direitos e a dignidade humana... Quando estávamos ameaçados de deportação para a Polônia, em 1942, Vossa Santidade estendeu sua mão paternal para nos proteger, e deteve a transferência dos judeus internados na Itália, com isto salvando-nos da morte quase certa. Com profunda confiança e esperança de que a obra de Vossa Santidade será coroada com sucesso continuado, expressamos nossos agradecimentos de coração e rogamos ao Todo-Poderoso: Que Vossa Santidade possa reinar por muitos anos na Santa Sé e exercer sua benéfica influência sobre o destino das nações.”
Poucos meses depois, o Congresso Judaico Mundial enviou um telegrama à Santa Sé, agradecendo pela proteção dada “sob condições difíceis, aos judeus perseguidos na Hungria sob domínio alemão”.
O rabino-chefe de Jerusalém, Isaac Herzog, disse: “Agradeço ao Papa e à Igreja, do fundo do meu coração, por toda a ajuda que nos deram.”
Moshe Sharett, um eminente sionista, resumiu assim sua entrevista pessoal com o Papa: “Eu disse a ele que meu primeiro dever era agradecer-lhe, e através dele a toda a Igreja Católica, em nome do público judeu, por tudo o que fizeram em todos os países para resgatar judeus -- para salvar as crianças e os judeus em geral. Estamos profundamente agradecidos à Igreja Católica pelo que ela fez naqueles países para salvar nossos irmãos.”
O Dr. Leon Kubowitzky, do Conselho Mundial Judaico, ofereceu uma vasta doação em dinheiro ao Vaticano, “em reconhecimento pela obra de Santa Sé ao resgatar judeus das perseguições fascista e nazista”.
Raffaele Cantoni, do Comitê Judaico de Bem-Estar Social da Itália, afirmou: “A Igreja Católica e o papado deram prova de que salvaram tantos judeus quanto puderam".
Essas nobres e comoventes palavras requerem poucos comentários. Registro-as aqui em honra de Pio XII, da Igreja Católica e dos homens bons que as pronunciaram.
Fonte: www.olavodecarvalho.org